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A Resenha: Indigo Borboleta Anil (Liniker)

A Resenha: Indigo Borboleta Anil (Liniker)

A primeira artista transgênero a ganhar o Grammy Latino, essa foi a última das conquistas – históricas – de Liniker[1]. O álbum Indigo Borboleta Anil, vencedor da categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, é o primeiro LP, Long play, da cantora.

A artista, que foi descoberta no YouTube pela sua legião de fãs com o hit “Zero”, retorna ao estúdio mais amadurecida, mas ainda carregando muitas referências brasileiras e internacionais em sua produção. Indigo Borboleta Anil é cativante, contagiante, dançante e intenso.

Misturando linhas de baixo no estilo groove, linhas de sopro, a guitarra do blues e o ritmo do samba, o álbum é extremamente coeso. Explora temas importantes para a cantora – e para todos aqueles que decidem lidar com seu mais profundo eu: relacionamentos, reflexões, memórias, amor, saudade.

Baby 95 é com certeza o hit do álbum, mas faixas como Clau, Antes de Tudo, Lua de Fé não ficam para trás no lirismo da cantora, misturando ritmos e tendências da década de 1940 e 1970 com aspectos contemporâneos.

A primeira faixa, Clau, é uma homenagem a sua cachorra: Claudete. O controle de voz e variação de notas conquistam o ouvinte. A linha de baixo, extremamente presente na segunda parte da música, lança o tom da música, sendo acompanhada com suaves solos de guitarra, gerando uma composição única.

Antes de Tudo, segunda faixa do álbum, é dançante desde o início com linhas de sopro da Orkestra Rumpilezz. A música é extremamente pessoal, mas, ao mesmo tempo, gera uma ligação com o ouvinte: conta sobre encontrar a si mesma, se desprender de medos, aprender a voar: Eu não quero mais pouco, quero voar. A canção, escrita por Liniker aos 16 anos, é a primeira composição da autora. A capacidade lírica já estava presente mesmo antes de estourar no YouTube.

Escrita em inglês, – a cantora já iniciou sua carreira internacional, inclusive participando do tradicional e reverenciado Tiny DeskLili conta com a participação da Orquestra Jazz Sinfônica, que dita o ritmo da música. A música é sobre o amor-próprio, autobiográfica, a quem ela chama de “Lili” (de Liniker). É o amor à pele, à aparência, a sua ambição e aos seus sonhos, finalizando com um I’m in love (Eu estou apaixonada, em inglês).

Psiu, a quarta faixa do álbum, foi revelada antes do lançamento do LP, através do single da cantora. A canção mistura blues com batidas eletrônicas e eco nas vozes. É um single romântico, com notas altas da cantora, mostrando seu domínio da voz e da técnica de vocal. O mergulho foi tão bom que me encheu de graça, molhou meu coração ebulindo fumaça.

A próxima canção do álbum é Lua de Fé, com toque de groove, a música tem traços cósmicos e espirituais. Novamente, as linhas de sopro dão o toque da música e encanta os ouvintes entre os versos. Extremamente dançante, Lua de Fé termina como se fosse uma canção de ninar.

Lalange inicia com um relato extremamente pessoal, um sonho de Liniker que ela retorna para Araraquara, sua cidade natal, em busca da sua versão criança ao lado de sua mãe. A cantora se pronunciou sobre a faixa falando da importância da relação da criança negra com a mãe. A participação de Milton Nascimento na faixa é a cereja do bolo, numa música que fala sobre ancestralidade.

Presente, que foi performada recentemente no “A Colors Show”, mistura batidas eletrônicas e a potência vocal de Liniker. O destaque é a percussão e a brincadeira com a sonoridade das palavras: “nana” – expressão para dormir, mas que também lembra a pronúncia de “Nanã”, orixá feminino relacionado com a origem do homem na Terra. Ori (Iorubá) é também mencionado na canção.

Diz Quanto Custa, parceria com a famosa rapper Tássia Reis, é um samba-rock dançante. A cantora fala que foi uma produção dedicada à mãe. Sua casa, durante seu crescimento, era permeada pela música e esta foi feita para sua mãe dançar.

Vitoriosa, o encerramento do disco, foi criada em formato de samba-enredo e mistura a brasilidade de uma maneira linda e terna. Você, tão Brasil no jeito, fala de nosso país, mas com um romance nas linhas que se seguem, com pitadas de cavaquinho e percussão de samba.

Mas, claro, a cantora não deixaria a gente sem um gosto de quero mais. A faixa-bônus, Mel, relembra a Liniker de “Zero”, com uma sensualidade romântica que te abraça num dia frio. O diferencial é que, no início da faixa, Liniker fala direto com o ouvinte, informa que é ela quem toca o violão, a la Itamar Assunção, uma de suas referências.

Como já mencionado, no disco, Liniker brinca com a voz, mostra seu domínio da técnica vocal sem deixar de escancarar suas referências. O tradicional blues, marca da cantora desde o início da carreira, permeia o álbum ao lado do samba, do groove e dos efeitos eletrônicos.

Para melhorar a experiência, a cantora lançou no YouTube o visualizer de cada uma das canções, mostrando que o álbum é mais que uma sequência de música, é uma grande produção coesa, sentimental, que toca a quem desejar se abrir e se conectar com seus sentimentos.

Eu assisti ao show da Liniker e é necessário fazer um comentário: a experiência ao vivo é de outra dimensão. Estive no Primavera Sound 2022, quando a cantora tocou no palco Primavera, uma atração antes de Bjork. A plateia se misturava em quem queria ver a brasileira e aqueles que queriam festejar com a irreverente cantora islandesa. Mas, algo há de se dizer: o público se uniu, cantou e todo mundo bailou com Liniker, que esbanjou carisma, ânimo e mostrou a sua presença no palco. Confira a agenda da cantora no Instagram de Liniker.

Desbancando “Pomares” (Chico Chico), “Síntese de Lance” (João Donato e Jards Macalé), “Nu com a Minha Cabeça” (Ney Matogrosso), “Portas” (Marisa Monte) e “Meu Coco” (do consagrado da MPB Caetano Veloso), o novo álbum de Liniker fez e faz história, cativa e abraça o ouvinte em seus quase 50 minutos de duração. A cantora pode vir a se tornar, inclusive, uma das maiores revelações da MPB da primeira metade do século XXI. Vale a pena ser vista, ouvida e com ela dançar, pensar e sonhar!

[1] A cantora também fez história, como mencionamos no texto, ao ser convidada pelo NPR, sendo a primeira brasileira a tocar no famosíssimo programa.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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