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A Resenha: A Filha Perdida
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A Resenha: A Filha Perdida

Em “A Filha Perdida” é difícil compreender logo de cara a personagem principal. A primeira cena do filme acende alertas que vão ficar presos em sua mente até o final do longa-metragem. Leda (Olivia Colman), a professora de literatura comparada, transparece um ar de mulher bem-sucedida, mas a sua personalidade é destoante daquilo que imaginamos. Meio atrapalhada e com poucas habilidades sociais, a personagem interpretada por Olivia Colman, indicada ao prêmio de Melhor Atriz do Oscar, causa desconfortos durante o filme todo. O longa é um drama psicológico, adaptação do livro de Elena Ferrante e tem roteiro e direção de Maggie Gyllenhaal.

A história se passa na Grécia durante um período de férias da professora universitária. No início, sentimos uma sensação de liberdade, com Leda cantando em seu carro enquanto dirige para uma praia paradisíaca. Lá, ela encontra uma família nova iorquina também de férias. A relação entre a personagem principal e essa família causará sensações diversas ao longo do filme. A relação com Nina (Dakota Johnson) é um grande trunfo da produção. As duas, que são interrompidas constantemente pelo marido (Oliver Jackson-Cohen) relativamente ameaçador da jovem, parecem ter uma conexão e uma curiosidade mútua logo nas primeiras cenas.

Leda possui uma fixação quase obsessiva por Nina e sua filha, Elena. A partir da observação da professora, o filme recupera uma das características do livro: a narrativa não-linear. Esta forma de contar a história prende ainda mais o telespectador, que busca respostas para as dúvidas que vão surgindo acerca do comportamento da personagem de Colman e de suas razões.

Outra personagem difícil de decifrar é a irmã de Nina, Callie (Dagmara Dominczyk). Com tensões e algumas rusgas, a relação das duas fica longe de ser baseada na honestidade e na sinceridade. Callie é uma grande incógnita, grávida, tem conhecimentos profundos do sentimento de ser mãe, o que leva Leda a questionar se aquele era realmente seu primeiro filho.

Demora a acontecer, mas Leda revela ter duas filhas: uma de 25 e outra de 23 anos. Mas, as filhas só aparecem no período da infância, quando Leda é interpretada por Jessie Buckley. A relação mãe e filha, palco desta crise existencial, permeia todo o filme, seja na relação de Nina e Elena, seja com Leda ou com a gestante Callie. Mais do que uma simples história sobre como a maternidade pode contrapor-se à carreira, o filme é sobre a forma com que ser mãe pode consumir seu próprio eu.

Inadequada em diversas situações que causam constrangimento, Leda sofre com um gatilho, a perda da filha em uma praia, o que a faz regredir de forma até infantilizada. Cuidando de uma boneca como se fosse uma criança, Leda causa desconforto ao telespectador, tomando atitudes egoístas e moralmente reprováveis, distante daquilo que imageticamente pensamos de uma mulher bem-sucedida, com duas filhas e próxima da meia idade.

O filme tem como destaque a fotografia de Hélène Louvart e montagem de Affonso Gonçalves. Com um ritmo um pouco mais lento, o drama nos faz questionar a relação mãe-filha-marido do início ao fim. Em alguns momentos sentimos uma proximidade e empatia por Leda, que se vê soterrada, pressionada e exausta com o dilema em conquistar suas ambições profissionais e cuidar de suas filhas.

O filme é muito bem trabalhado e seu final, surpreende, pois convida o telespectador a refletir e a decidir. Isso faz com que o filme se torne ainda mais atraente e reflexivo, porque recai sobre a subjetividade de cada um.

A indicação ao Oscar de Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado é mais do que merecido. O filme brinca com as sensações, provoca reflexões, desperta perplexidades, indagações morais e sociais e ainda conta com atuações impecáveis de um elenco muito forte. É uma história que merece a atenção pelo desafio que oferece em todos os sentidos.

Ficha Técnica:

Nome: A Filha Perdida

Ano de produção: 2021

Duração: 121 minutos

Dirigido por: Maggie Gyllenhaal

Elenco Principal: Olivia Colman, Dakota Johnson, Dagmara Dominczky, Ed Harris, Jack Farthing, Jessie Buckley, Oliver Jackson-Cohen, Paul Mescal, Peter Sarsgaard.

Produção: Estados Unidos e Grécia

Plataforma de Streaming: Netflix

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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