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Fundação Podemos Promove Lançamento do Programa de Internacionalização: Global Connections

Fundação Podemos Promove Lançamento do Programa de Internacionalização: Global Connections

O dia 18 de setembro de 2023 foi um grande marco na história da Fundação Podemos: iniciamos o projeto Global Connections. Esta iniciativa busca inserir a nossa organização nos conceituados e urgentes debates internacionais, trazendo conhecimento e bases para ideias do Podemos e do Congresso Nacional.

Neste evento inaugural, convidamos diversos palestrantes que fizeram parte do evento que nós participamos ativamente: Spring Meeting do Fundo Monetário Internacional. Selecionamos os palestrantes pensando na importância dos temas tratados para a realidade brasileira.

Nesta edição do evento, convidamos

  • Mark S. Langevi: membro do corpo docente da Escola Schar de Política e Governo na Universidade de Manson. Especialista em América Latina com foco em Brasil;
  • Rebecca Ray: Pesquisadora na Global China Initiative (Iniciativa Global da China) na Universidade de Boston;
  • Catalina Escobar Bravo: Empreendedora social com mais de 20 anos de experiência no setor social, desenvolvimento digital e cooperação internacional. Atualmente, é Diretora de Estratégia na organização Makaia;
  • Marcos Vinícius de Freitas: Economista, é professor visitante na Universidade Chinesa de Política Externa. Além disso, é bolsista sênior não residente no OCP Policy Center;
  • Zenzi Suhadi: diretor executivo da maior organização de meio ambiente da Indonésia, a WHALI.

Confira os principais pontos da fala de cada um dos palestrantes:

Mark S. Langevin:

O professor iniciou sua fala chamando atenção para um problema fundamental que o Brasil tem enfrentado nas últimas décadas. O país passa por um encolhimento de seu parque industrial. Em outras palavras, estamos nos desindustrializando. O lugar que o Brasil ocupa hoje na divisão internacional do trabalho é o de exportador de commodities.

Como sabemos, o setor agropecuário tem sido fundamental na nossa pauta de exportação e sem ele não há dúvida que teríamos sérios problemas na balança comercial. Mas o problema, como pontua Langevin, é que isso não gera desenvolvimento.

Diante desse quadro seria fundamental que o Brasil desenvolvesse uma boa estratégia de relação bilateral com os Estados Unidos da América (EUA). No entanto – e esse é o cerne do argumento do professor – nos falta uma visão concreta, à esquerda e à direita, sobre como fazer isso. “O Brasil está jogando como segundo escalão na corrida pela revolução industrial 4.0”.

A pauta de exportação brasileira para os EUA é predominantemente de manufaturados. Por isso, há um enorme potencial a ser explorado nessa relação. É preciso criar estratégias para fazer o Brasil avançar nessa corrida, o que passa pela mobilização de toda uma cadeia produtiva, envolvendo prioritariamente os setores de informática e tecnologia.

Outro problema apontado diz respeito à falta de representação – empresarial e governamental – nos EUA. Uma representação que seja capaz de fazer a ponte entre os setores envolvidos e guiada por uma visão estratégica sobre “o que queremos dos EUA”. Hoje essa visão é ausente, mesmo dentro dos quadros mais qualificados do Itamaraty.

Uma boa visão estratégica da relação entre os dois países deve contar com dois pilares básicos: Engajamento com a indústria e disponibilidade de mecanismos de investimento. O mundo hoje passa por uma revolução tecnológica e o Brasil tem um enorme potencial de participar desse processo não apenas como comprador de tecnologia. Não devemos perder essa oportunidade.

Rebecca Ray:

A segunda fala do evento explorou a relação entre Brasil e China sob a perspectiva econômica e ambiental. A primeira lição que se tira a partir das pesquisas de Rebecca Ray é a de que a China é um grande emprestador e financiador de projetos. Os dados revelam que o Brasil tomou cerca de 30 bilhões em empréstimos da China durante o período 2008-2011. Se olharmos os empréstimos chineses para um grupo de países latino-americanos podemos dizer que a China vem substituindo o Banco Mundial.

Uma segunda lição tirada de suas pesquisas diz respeito à relação entre empréstimos e sustentabilidade ambiental. Ao contrário do que se pensou por muito tempo, o relaxamento de mecanismos de proteção ao meio ambiente não traz mais investimentos para os países. Ao contrário, o que as evidências têm sugerido é que, no mundo atual, essa correlação é positiva. Isto é, quanto mais os países se preocupam com o meio ambiente e quanto mais voltados para a sustentabilidade são seus projetos, mais dinheiro eles poderão atrair.

Sem dúvida é uma mudança de paradigma a qual o Brasil deve estar atento para explorar enormes possibilidades de investimento sem abrir mão da preservação ambiental.

Catalina Escobar Bravo:        

Estamos diante de um mundo cada vez mais tecnológico. Mas o que fazemos com isso? Essa é a questão de fundo que permeia toda a fala de Catalina Escobar Bravo. Seu ponto central é a defesa da Igualdade digital.

Não há dúvidas de que a tecnologia é central para os objetivos de desenvolvimento econômico e social. Mas é preciso que haja igualdade digital, sem o que nosso potencial de desenvolvimento fica fortemente reduzido. Mas a pesquisadora adverte: “A tecnologia não é um fim em si mesmo. Ela é um meio”.

Devemos explorar ao máximo as potencialidades desse meio, já que a tecnologia é capaz de catalisar o desenvolvimento econômico e unir sociedades ao redor do globo. O problema é que ela se desenvolve e avança mais rápido do que a capacidade das pessoas em assimilá-la. Por isso é preciso promover, mais do que nunca, a igualdade digital. Mas a pesquisadora adverte: igualdade digital não é apenas garantir acesso. São necessários três pilares: 1) Garantir acesso à tecnologia, 2) Promover o desenvolvimento das habilidades necessárias, e 3) desenvolver uma cultura tecnológica.

Para garantir os três pontos acima são necessárias políticas públicas bem desenhadas que sejam nacionais e supranacionais. Além disso, é necessário o engajamento da sociedade civil organizada e do setor privado. O problema que surge, novamente, é que a tecnologia avança mais rápido que as políticas públicas. Esse é um desafio que os governos têm de enfrentar.

Marcos Vinícius de Freitas:

Marcos Vinícius de Freitas fez sua conferência direto da China, buscando oferecer uma interpretação das mudanças do cenário internacional atual e das potencialidades que o Brasil pode explorar em sua relação bilateral com a potência Oriental.

Haveria hoje três grandes mudanças em curso: o enfraquecimento da Europa na economia mundial, a fragilização da democracia americana e a emergência da China como potência hegemônica. É nesse quadro que o Brasil deve se reposicionar, buscando explorar as complementaridades entre as economias brasileira e chinesa. Um dos caminhos possíveis é apostar no BRICS como bloco econômico e político, um bloco que hoje é mais representativo das diversidades do mundo do que o G7.

A pergunta estratégica colocada é: “Quais são os interesses do Brasil?”. A partir disso deve-se traçar estratégias e desenhar políticas que não sejam guiadas por alguma ideologia, mas, ao contrário, que sejam pragmáticas. Qualquer que seja a estratégia adotada, há um objetivo que deveria ser prioritário: Aumentar a renda per capita nacional. E na busca desse objetivo o Brasil deve contar com a China, não como cliente, mas como parceiro fundamental, adverte o professor.

Zenzi Suhadi:

Zenzi Suhadi teve uma fala bastante interessante e importante para o Brasil. Embora tratando da Indonésia, o tema da absorção de terras para a plantação de monoculturas se encaixa perfeitamente no cenário brasileiro. Isso porque a experiência da Indonésia foi de recuperação florestal em áreas degradadas pela plantação de monocultura extensiva.

Como sabemos, o Brasil enfrenta problemas similares nos seus principais e mais diversos biomas, como na Amazônia e no Cerrado. Suhadi discutiu também a relação das comunidades com o solo e com a cultura, mostrando que a apropriação de terras para a monocultura e a contratação de mão de obra da comunidade causou mudanças drásticas no dia a dia dessas pessoas.

O principal ponto de sua fala foi exatamente que podemos reverter esses processos, incluindo comunidades na recuperação ambiental. Além disso, há sim um crítica em relação ao modelo de monocultura com o uso intensivo de mão de obra, que acaba transformando comunidades para sempre.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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Autores:

Heloísa Cristina Ribeiro é bacharel em Ciências e Humanidades e Graduada em Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC. Foi membro do Grupo de Estudos do Sul Global (GESG/UFABC), do comitê Gestor de Direitos Humanos da UFABC e atuou como Diretora de Assuntos LGBT do Diretório Central dos Estudantes na mesma instituição. Atualmente integra o time de Estudos e Pesquisas da Fundação Podemos.

Felipe Calabrez

Felipe Calabrez é cientista social, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (EAESP-FGV). Atualmente é professor de cenários macroeconômicos pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Autor do livro Introdução à Economia Política: O percurso histórico de uma ciência social.

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