O mais novo filme produzido pelo diretor M. Night Shyamalan, com roteiro de Celine Held e Logan George, reúne todos os elementos clássicos que fizeram dele não só um cineasta adorado por muitos, mas também um dos principais nomes do cinema atual. Os Horrores do Caddo Lake (2024) é quase uma síntese daquilo que Shyamalan faz de melhor: uma história tensa, que prende do início ao fim, com um final surpreendente, que vai aos poucos se revelando. Aliás, é verdade que nem sempre os finais dos filmes dele foram satisfatórios. A principal crítica que recebe, inclusive, sempre foi nesse sentido; isto é, de que apesar de conseguir construir roteiros de tirar o fôlego, acaba pecando um pouco ao amarrar suas histórias, tal como em A Vila e A Dama na Água. De qualquer maneira, esse não é o caso de Os Horrores do Caddo Lake.
O longa, cujo nome é realmente um pouco estranho, conta a história do desaparecimento de uma menina de oito anos de idade sob a perspectiva e a trajetória paralela de dois personagens. Um é Paris, interpretado por Dylan O´Brien (Maze Runner), um jovem que não consegue superar o luto da trágica perda de sua mãe num grave acidente de carro. O outro é Ellie, vivida por Eliza Scanlen (Adoráveis Mulheres), uma jovem que vive a dor constante de não saber por qual motivo seu pai foi embora, abandonando-a sozinha quando era bebê com sua mãe Celeste (Lauren Ambrose) e tampouco saber como ele morreu. No meio desse duro sentimento, ela ainda mantém uma relação difícil com sua própria mãe e a família de seu padrasto.
Anna (Caroline Falk) é filha de Daniel (Eric Lange), marido da mãe de Ellie. Ela é uma menina de apenas oito anos que deseja o carinho e a aprovação da meia-irmã. Embora Ellie realmente goste de Anna e com ela se preocupe, na maior parte das vezes ela acaba brigando com sua mãe e aborrecendo a menina, que acha que a razão de toda discórdia tem algo a ver com ela. Daniel é um bom pai e padrasto. Ele tenta unir as meninas e melhorar a relação da enteada com sua esposa, mas raramente consegue. Ellie, nos momentos de maior discordância, reitera que eles não são uma família, o que deixa Daniel muito magoado.
Em um certo dia, Ellie, irritada com sua mãe, que lhe nega conversar sobre o pai e lhe dar uma certidão de óbito dele, sai no meio de uma reunião de família na casa em Caddo Lake. Esse lugar tem esse nome por ser uma área inundada, pantanosa, cuja travessia é normalmente feita em pequenos barcos. Uma espécie de conjunto de vias fluviais que os moradores da região usam para ir de um lugar a outro da região. Ellie sai da casa da mãe e pega um barco para ir dormir na casa de uma amiga. Anna, chateada, vai atrás de Ellie com outro barco e simplesmente desaparece.
Enquanto tudo isso acontece, Paris tenta entender o que aconteceu com sua mãe no dia em que ela convulsionou dirigindo e acabou caindo com o carro de uma ponte. Ele estava ao lado dela, mas, infelizmente, não conseguiu salvá-la. O que Paris não consegue compreender é que sua mãe nunca teve um diagnóstico claro sobre suas convulsões. Ele tinha a certeza de que algo estranho havia acontecido ali, no momento do acidente. Assim, ele começa a investigar uma relação entre as convulsões da mãe e os períodos de seca de Caddo Lake. Ele percebe que quando as águas estão baixas, algo acontece com ele mesmo: sua mão treme e algo fora do normal acontece. Assim, desconfia que alguma coisa semelhante acontecia com sua mãe nesses momentos de seca. Sua namorada, Cee (Diane Hooper), tenta se reconectar com ele nesse período. Embora tente apoiá-lo em todos os momentos, ela começa a achar que ele está obcecado e que a negação do luto é a razão de todo o seu quadro de inquietude e aparente confusão.
As duas histórias vão, assim, acontecendo paralelamente até que o sumiço de Anna vai interconectando Ellie e Paris de uma maneira profunda. Em um determinado ponto de Caddo Lake, quando as águas estão baixas e o solo apenas úmido, algo realmente estranho acontece. Ambos percebem isso e passam a enfrentar situações angustiantes e desesperadoras, separados, sem nunca se encontrarem, mas muito próximos um do outro. O que acontece desse momento em diante é uma série de terríveis descobertas, que colocam o desaparecimento de Anna como o ponto central do destino de Ellie e de Paris, trazendo consequências para todos.
O longa Os horrores do Caddo Lake retoma uma temática muito explorada na famosa série alemã Dark. Muitos telespectadores vão se lembrar firmemente das idas e vindas e dos destinos cruzados da série que foi uma verdadeira sensação no Brasil. Contudo, diferentemente de Dark, o desenrolar da história se dá de uma forma mais organizada e menos confusa. Dessa vez M. Night Shyamalan conseguiu amarrar a história que, no final, realmente surpreende. Para alguns o destino de Anna, Ellie e Paris poderá ser interpretado como algo trágico e triste, para outros será um alívio, algo que trará uma verdadeira sensação de conforto, no sentido de como nos sentimos quando as coisas finalmente encontram-se em seu lugar. Quanto a essa decisão, o telespectador terá que também viver um pouco de tudo aquilo que acontece naquele sombrio e assustador pântano. Vale a pena a experiência.