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O desastre educacional de hoje e de amanhã. O Brasil e os resultados do Pisa de 2022.

O desastre educacional de hoje e de amanhã. O Brasil e os resultados do Pisa de 2022.

No final do mês de dezembro foram divulgados os resultados do Pisa, ou melhor, do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, uma tradução para o português de Programme for International Student Assessment. Trata-se de um estudo comparativo realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).      Sua primeira edição foi feita no ano de 2000 e, desde então, mais de 70 países participam do programa, dentre membros da organização e Estados parceiros. O Brasil participa do Pisa desde a sua primeira edição.

O Pisa é importante, pois ele oferece informações comparativas entre os países sobre o desempenho dos estudantes na faixa etária dos 15 anos, que é a idade em que se estima o término daquilo que corresponde ao ciclo da escolaridade básica na maioria dos países do mundo. Esses dados são fundamentais em razão do relacionamento que eles apresentam com os métodos de ensino e aprendizagem, podendo oferecer parâmetros para melhorias ou até mesmo correção de rumos dos países no desenvolvimento da educação. Vale ressaltar que no Pisa são analisados fatores dentro e fora da escola, no sentido do que pode vir a estimular ou apresentar-se como um entrave para o desempenho dos alunos no processo de aprendizagem.

Por ser um programa internacional, cada Estado define um órgão interno para gerenciar o exame e seus desdobramentos. No Brasil, a estrutura estatal responsável pelo planejamento e a operacionalização da avaliação oferecida pelo Pisa é o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Nesse sentido, cabe a ele coordenar a tradução dos instrumentos de avaliação, sua aplicação nas escolas amostradas, assim como a coleta das respostas. Também é de sua responsabilidade codificar as respostas, analisá-las e, por fim, elaborar o relatório nacional.

O Pisa tem como objetivo avaliar centralmente três domínios; são eles: leitura, matemática e ciências. Cada edição da avaliação dá preferência a um dos três domínios, que recebe maior ênfase por meio de um mais extenso número de itens no teste. Além desses três domínios, a pesquisa busca avaliar outros que classifica como inovadores, como por exemplo, “resolução de problemas”, “letramento financeiro” e “competência global”.

O relatório dos resultados do Pisa traz uma série de questionamentos, que devem ser explorados de maneira intersetorial, pois perpassam tanto políticas educacionais, como também da área da saúde, segurança e de políticas públicas em geral. Por exemplo, a partir do relatório é possível problematizar se a motivação dos estudantes é afetada, caso eles sejam agrupados em escolas diversas daquelas, onde eles seriam, a princípio, alocados para aprender. Outro exemplo é poder identificar quem na sociedade são os maiores impactados pelo absenteísmo escolar. Para aqueles que formulam políticas públicas e legislam, o relatório fornece informações sobre quais países tiveram fortes desempenhos ou foram bem-sucedidos nas reformas educacionais que fizeram. Além disso, um outro exemplo é descobrir quais estratégias de aprendizado podem reduzir a diferença de desempenho entre os estudantes mais e menos favorecidos; dentre outros importantes questionamentos.

A riqueza de informações do Programa é evidente. É possível, além de tudo que já foi mencionado, encontrar discussões acerca do efeito das bolsas escolares na construção da equidade na educação; se existe uma espécie de “segunda chance” na educação; sobre o que os estudantes esperam fazer ao terminar o ensino médio; se os alunos se empenham mais quando a escola oferece atividades extracurriculares; se o pagamento baseado no desempenho melhora a atuação do professor; se meninos e meninas estão preparados para a era digital; o que os pais podem fazer para ajudar os filhos a terem sucesso na escola; se os estudantes de hoje leem por prazer; se a autonomia da escola tem alguma relação com o desempenho dos estudantes; como alguns estudantes conseguem superar as dificuldades socioeconômicas; etc.

O Pisa é um instrumento fundamental de análise para pensar o futuro da educação. Todavia, os resultados do Pisa de 2022 no mundo foram, se comparados com os obtidos na anterior pesquisa (2018), um pouco preocupantes. Quedas de aproveitamento nos três domínios foram identificadas na grande maioria dos países, inclusive naqueles conhecidos por seu programa educacional de excelência, como a Alemanha. Contudo, se no mundo os dados foram preocupantes, no Brasil foram alarmantes.

Em nosso país, sete a cada dez estudantes brasileiros de 15 anos não conseguiram aprender o mínimo esperado de matemática. Isto é, 70% dos estudantes brasileiros não conseguem resolver contas simples, equações consideradas básicas e sequer comparar a distância entre duas rotas. Em média, entre os países membros da OCDE, 31% dos alunos apresentam baixo desempenho em matemática. Ou seja, o Brasil tem o dobro de estudantes com baixo desempenho se comparado a esses países.

Em relação ao Pisa anterior, o Brasil apresentou uma piora. Quatro anos antes o percentual de alunos com baixo desempenho em matemática era de 68%. Entre os países membros da OCDE houve também uma piora; o percentual com baixo desempenho era de apenas 24%.

Se 70% dos alunos brasileiros apresentaram essa grave deficiência no aprendizado de matemática, apenas 1% obteve melhores níveis de rendimento. Isto é, há um abismo na sociedade brasileira em relação à educação e ao processo de aprendizado, que separa uma pequena parcela da vasta maioria. De acordo com o relatório, os alunos mais ricos alcançaram 77 pontos a mais do que os alunos mais pobres.

No ranking geral de desempenho em matemática, o Brasil ocupa a péssima posição de 64°, enquanto Singapura, Japão e Coreia do Sul ocupam as primeiras posições. Aliás, Singapura ocupa a primeira posição nos três domínios, o que faz do país um caso de sucesso no planejamento educacional.

Em relação ao desempenho de leitura e ciências, o Brasil apresentou um quadro menos ruim do que o obtido em matemática. 50% dos estudantes brasileiros não conseguem entender a ideia principal em um texto. A média entre os países da OCDE é de 26% no baixo desempenho em leitura. Ou seja, o Brasil está bastante abaixo da média se comparado com os demais países.

No domínio da ciência, 55% dos estudantes brasileiros não conseguem compreender fenômenos científicos considerados simples em termos de explicação. Desta maneira, o resultado também é ruim e apresentou uma piora em relação ao Pisa anterior.

O Brasil ocupa no ranking geral de leitura a 52ª posição e no ranking geral de ciências a 61ª posição. Posições ruins se avaliarmos que 80 países compõem os rankings gerais dos três domínios.

De acordo com o Instituto Todo Pela Educação, se compararmos os dados do atual Pisa com o do anterior (2018), é possível considerar que houve um quadro de estabilidade, apesar da piora. Os recuos nas médias em cada área avaliada foram de -5 em matemática, -3 em leitura e -1 em ciências. Nesse diapasão, se quisermos encontrar alguma boa notícia em meio a esses resultados, as quedas brasileiras não estão entre as piores no mundo, quando considerados os países com características e patamares prévios similares, como por exemplo, o México, a Indonésia, a Tailândia e a Malásia. Os países da OCDE em média recuaram 10 pontos em leitura e 15 pontos em matemática, quedas nunca observadas na história do Pisa. Países como Alemanha, Holanda e Noruega registraram quedas notáveis.

Especialistas apontam que dois foram os fatores primordiais para todo esse quadro global: a pandemia e o uso não adequado da tecnologia como componente do processo de aprendizado. Somados a esses dois fatores, a desvalorização do professor e a falta de investimento robusto em políticas voltadas para a primeira infância.

A pandemia provocou o fechamento de escolas e prejudicou o acesso à educação principalmente entre os alunos mais pobres, sem recursos tecnológicos disponíveis para dar continuidade ao aprendizado durante o período de isolamento. Por outro lado, o excesso de aulas e cursos online pode ter contribuído para a piora do desempenho, principalmente por ter sido acompanhado de uma espécie de desvalorização do papel do docente no processo de aprendizado. Os baixos salários da classe docente no Brasil tornam a profissão não atrativa para aqueles que têm melhor preparo, afastando-os da sala de aula. Além disso, o foco no aprendizado somente online retira do docente capacidades de identificação nos problemas de aprendizado entre os alunos, tornando o processo de ensino uma mera transmissão digital.

Enfim, o quadro da educação brasileira não é bom. É verdade que avanços foram feitos em relação ao combate ao analfabetismo e a evasão escolar. Todavia, os efeitos deletérios da pandemia e do mau uso das tecnologias parece ter dado aos nossos avanços um freio muito perigoso. Não há dúvidas de que se não fizermos algo, se não entendermos o contexto do que estamos vivendo, a deterioração da educação tende a continuar, o que fará aprofundar desigualdades sociais e regionais em nosso país. Há muito que ser compreendido e há muito que ser feito. Se isso não for observado, comprometeremos profundamente o futuro do nosso país. O desastre está na nossa porta, cabe a nós evitá-lo.

 

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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