No último dia 21, quinta-feira, o presidente Bolsonaro fez mais uma de suas lives semanais. Durante a transmissão, o presidente novamente fez uma afirmação falsa e grave sobre as vacinas contra a Covid-19. Se utilizando de uma notícia falsa, o presidente afirmou que “vacinados [contra a Covid] estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]“.
A afirmação vem em uma semana de crise no governo. Na semana passada, o relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros, leu seu relatório da Comissão, que indiciou Bolsonaro por 9 crimes cometidos no combate à pandemia. Além do presidente, dois de seus filhos, aliados próximos e ministros também foram indiciados por crimes, que vão desde prevaricação, disseminação de fake news e epidemia com resultado de morte. O relatório, que ainda não foi votado, é um documento político, isto é, a investigação e a possível condenação dessas pessoas dependerão das autoridades competentes. O caminho a ser seguido a partir de agora é enviar o relatório após votação para o Ministério Público – da União e dos Estados – para que se dê prosseguimento à investigação.
A segunda crise da semana foi a desconfiança do mercado e da sociedade civil com o fim do programa Bolsa Família e a criação do Auxílio Brasil. Muito embora o governo negue, a proposta parece levar ao rompimento do Teto de Gastos, estabelecido pela lei fiscal criada em 2016, que limita o gasto público à correção da inflação; isto é, não se pode aumentar substancialmente o investimento e o gasto público, causando desequilíbrio nas contas públicas. A proposta de ter um benefício mínimo de R$ 400,00 foi tema de debate no Ministério da Economia, que, após o anúncio do Auxílio Brasil, sofreu quatro baixas. Com a possibilidade de furar o Teto ou renegociá-lo antes do período estipulado em lei – 10 anos, a Bolsa sofreu grandes quedas, voltando ao patamar de novembro de 2020, quando o mercado sentia os impactos da pandemia de Covid-19. Além disso, o dólar fechou em alta três dias consecutivos.
A fala de Bolsonaro, atrelando a vacina à Aids, parece fazer parte de sua tática política: sempre que uma crise se instala no governo, o presidente faz pronunciamentos falsos, muitas vezes escatológicos, que causam reação dura da imprensa e repulsa por parte da sociedade civil, visando tirar o foco da crise do momento. Mesmo se tratando de uma tática de Bolsonaro, a fala não deixa de ser extremamente grave.
A Fundação Podemos se posiciona ao lado da ciência. Não há quaisquer indícios de que a afirmação do presidente esteja correta. Estudos científicos e especialistas confirmam a segurança da vacina e a importância do imunizante para o combate à pandemia. Por exemplo, no Brasil, 96% das mortes atuais de Covid-19 são de pessoas que não se imunizaram, isto é, não tomaram nenhuma dose ou não completaram a imunização com a segunda dose.
Além disso, a Aids é uma doença grave e de relevância para a saúde pública, que afeta a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, mas que possui tratamento, melhorando a qualidade de vida daqueles que a tem. Embora a ciência evoluiu bastante nos anos recentes, há muita desinformação sobre o HIV/Aids. Por exemplo, ter HIV não é a mesma coisa que ter Aids. O HIV é transmitido através de relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não são tomadas as devidas medidas de prevenção. É possível ser soropositivo e não apresentar nenhum sintoma da Aids e, com o devido tratamento, uma pessoa soropositiva pode viver longamente com qualidade. Não há razão, dessa maneira, para estigmatizar uma doença como o presidente indiretamente o fez.
As vacinas contra a Covid-19 não possuem nenhum fragmento do HIV e, como tratado anteriormente, a forma de transmissão das duas doenças são completamente diferentes. Enquanto o HIV é transmitido por meio de relações sexuais e seringas contaminadas, o Covid-19 é transmitido por gotículas oriundas da saliva, que são arremessadas no ambiente por meio da fala e do contato próximo. Daí a importância fundamental do uso de máscaras e do distanciamento social seguro.
As afirmações do presidente são, mais uma vez, ultrajantes e desrespeitam a sociedade brasileira, que já perdeu mais de 600.000 pessoas para a Covid-19. Buscam criar um terrorismo acerca da vacina, relacionando uma doença imunossupressora para evitar que pessoas se vacinem. É um discurso anti-ciência, anti-vacinação e preconceituoso que deve ser combatido com seriedade pela sociedade civil e pelos veículos de imprensa.
Cientistas reagem à declaração de Bolsonaro sobre vacinas e AIDS/Exame (23.10)
“Um dia após o relatório final da CPI da Covid ser lido no Senado e pedir o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro em função de sua postura e condução durante a pandemia de covid-19, o mandatário voltou a atacar a vacina e colocar dúvidas sobre sua segurança.”
Bolsonaro faz associação absurda e falsa entre Aids e vacina de Covid, dizem especialistas/Folha (24.10)
“Em sua live semanal, na última quinta-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) leu uma suposta notícia que alertava que “vacinados [contra a Covid] estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]” (assista abaixo).”
Facebook e Instagram derrubam live em que Bolsonaro associou Aids a vacina da Covid/Folha (24.10)
“Na noite deste domingo (24), o Facebook derrubou a live semanal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) transmitida na última quinta-feira (21).”
Entidades médicas desmentem fala de Bolsonaro que relaciona vacina a HIV: ‘Associação inexistente’/O Globo (24.10)
“RIO – A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) desmentiu a fala do presidente Jair Bolsonaro, que relacionou as vacinas contra Covid-19 ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), e repudiou “toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente”.”
“Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz que relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que as pessoas totalmente imunizadas contra a Covid-19 têm desenvolvido a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). É #FAKE.”
A última do palhaço: vacinas causam Aids. Depois reclama que o chamam de Bozo/Opinião Istoé (25.10)
“Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, cada vez mais negacionista, mau caráter e muito burro, conseguiu descer mais um degrau rumo ao cocho moral e intelectual que permeia sua existência medíocre.”
CPI vai incluir em relatório fala inverídica de Bolsonaro que associa vacina contra Covid a HIV/O Globo (25.10)
“RIO – A CPI da Covid vai incluir no relatório final a fala inverídica do presidente Jair Bolsonaro que relacionou a vacina contra Covid-19 ao vírus da imunodeficiência humana (HIV). A comissão também acrescentará recomendações às redes sociais acerca das recorrentes publicações enganosas feitas pelo chefe do Executivo, conforme informou ao GLOBO o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.“
YouTube remove live de Bolsonaro e proíbe novas postagens na conta do presidente por sete dias/O Globo (25.10)
“O YouTube decidiu bloquear novas postagens no canal do presidente Jair Bolsonaro por sete dias, após Bolsonaro publicar na plataforma uma de suas lives semanais com mensagens falsas sobre a vacinação contra a Covid-19. A postagem, em que o presidente associa a vacina ao desenvolvimento de Aids, o que foi desmentido pela comunidade científica, também foi retirada do ar.“
Barroso envia à PGR pedido de apuração de ‘live’ de Bolsonaro com mentira sobre vacina e Aids/G1 (25.10)
“O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso enviou à Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta segunda-feira (25) um pedido de investigação sobre a live do presidente Jair Bolsonaro que incluiu a divulgação de uma associação mentirosa entre as vacinas contra Covid e o risco de contrair Aids.“
Artigo: Desplataformizem Bolsonaro: ‘Está na hora de considerarmos o banimento do presidente das redes sociais’, diz Pablo Ortellado/Opinião O Globo (27.10)
“Jair Bolsonaro ultrapassou todos os limites quando disse em uma live no Facebook na última quinta-feira que “relatórios oficiais do governo do Reino Unido” sugeririam “que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida” (Aids). A afirmação, obviamente, é falsa, além de completamente absurda.“