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Monstros. Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais
Resenha do filme monstros: irmãos menendez

Monstros. Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais

A história contada pelos diretores Ryan Murphy e Ian Brennan sobre o caso dos irmãos Menendez é, na realidade, a segunda temporada da série Monstros, que na sua primeira retratou os brutais crimes de Jeffrey Dahmer, um assassino em série, cujos atos envolveram necrofilia, canibalismo, além de serem caracterizados por uma crueldade assustadora.

Não há dúvidas de que os diretores escolheram reconstituir histórias macabras de personagens reais que perturbaram e assustaram as pessoas na época em que viveram. Apesar de um pouco sensacionalista, a fórmula utilizada por eles para contar ambas as histórias, tanto de Jeffrey Dahmer, quanto dos irmãos Menendez, não foi, de maneira alguma, apelativa e simplista. Ou seja, em ambas as temporadas houve um profundo estudo sobre as personagens centrais, suas características pessoais e toda ambiguidade que envolve qualquer história humana. Se na primeira temporada é difícil para o telespectador criar qualquer empatia com o protagonista, na segunda há maior facilidade.

O caso dos irmãos Menendez faz parte do conjunto de crimes midiáticos que tomou conta dos EUA na década de 1990. Assim como o julgamento de O.J Simpson, o famoso jogador de futebol americano e ator, que foi inocentado da acusação de ter matado sua esposa, o dos irmãos Menendez tomaram conta do noticiário e da imprensa quando em 1989, Erik e Lyle Menendez assassinaram brutamente seus pais, José e Kitty Menendez. Quando foram presos, não havia dúvidas de que tinham sido os responsáveis, pois haviam simplesmente confessado os crimes em um ato de crise de consciência para o psicólogo que os atendia. Assim, o que circundou todo o julgamento dos irmãos foi o motivo pelo qual mataram violentamente os próprios pais.

Não precisa ser dito que o crime chocou a sociedade dos EUA não somente pela brutalidade e pela potencial futilidade em si, mas porque se tratava de um dos mais bem sucedidos executivos da indústria do entretenimento norte americana. José Menendez, vivido pelo excelente e sempre competente Javier Bardem, era um imigrante cubano que personificou em sua trajetória de vida o ideal do sonho americano. Casou-se com Kitty Menendez, interpretada por Chloë Sevigny, uma típica norte americana de família abastada e fez fortuna trabalhando primeiramente na tradicional empresa Herz e depois na RCA. Depois de ganhar muito dinheiro na indústria da música, principalmente no setor da música latina, José começou a trabalhar em uma produtora de cinema. Tudo isso o fez enriquecer imensamente, tanto que ele e sua família resolveram se mudar para uma mansão de milhões de dólares em Beverly Hills. Foi justamente nela que sua vida chegou ao fim.

Lyle, interpretado de maneira muito surpreendente pelo jovem ator Nicholas Alexander Chavez, tinha apenas 21 anos quando contou com a ajuda do seu irmão Erik, vivido pelo também jovem promissor Cooper Koch, de apenas 18 anos, para matar seus pais. Dois irmãos que tinham todo dinheiro que o mundo poderia oferecer, com acesso ao que quisessem, resolveram assassinar os pais. Ou seja, algo que ninguém imaginaria no mundo dos ricos e famosos dos EUA.

Os dois irmãos foram condenados a prisão perpétua, sem livramento condicional, e estão presos até hoje. Mas o que realmente causa perplexidade e um interesse sólido para a história de ambos não é apenas a ideia de futilidade de um caso policial dantesco do mundo afortunado de um dos países mais ricos do planeta, mas sim as razões e toda a trajetória que levaram ao dia em que Lyle e Erik Menendez entraram na sala de estar da mansão e trucidaram seus pais violentamente. Durante o julgamento os irmãos relataram abusos morais e sexuais que teriam supostamente sofrido nas mãos do pai e da mãe. José Menendez não era um homem conhecido por sua gentileza, mas sim pela brutalidade com que se impunha em suas relações. Era implacável e não admitia perder. Violento e narcisista, tratava os filhos de maneira enérgica e agressiva.

Erik e Lyle teriam sofrido humilhações e abusos que são difíceis de digerir. Dois episódios da temporada se focam justamente nesses relatos. São, talvez, os mais duros de serem encarados pelo telespectador, que, claramente, após serem expostos a todo aquele horror, começam a se indagar sobre a quem o título Monstros realmente se refere.

De qualquer maneira, a história é muito bem construída pelos diretores e prende a atenção do começo ao fim. A ambiguidade dos motivos que levaram os dois irmãos a tomarem a decisão de matar os próprios pais permanece como uma sombra e um incômodo que nunca passa. É realmente muito difícil tomar um veredicto sobre tudo que aconteceu naquela família e sobre o destino trágico dos quatro integrantes dela. Aliás, os dois julgamentos a que foram submetidos os irmãos são abordados de maneira muito interessante, principalmente pela participação de Dominick Dunne, vivido pelo veterano Nathan Lane, como testemunha ocular da opinião pública. Dunne é um jornalista de renome, colunista da famosa revista Vanity Fair, que serve de termômetro em relação ao que as pessoas sentem e pensam dos dois irmãos que estão sendo julgados conforme o calor do momento e a própria exaustão das notícias. O fato de Dominick ter sofrido uma tragédia pessoal e deixar isso influenciar seu julgamento sobre os fatos narrados, evidencia o quanto as pessoas misturam suas vidas e julgam a partir da sua própria subjetividade aquilo que, na realidade, nada tem a ver com elas.

Por fim, Monstros. Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais, é a história de um crime que traz para nós a reflexão sobre o quanto somos complexos e o quanto pequenos atos somados de humilhação, abusos, omissão e desentendimento podem levar a uma tragédia. Aliás, desde que a série estreou na plataforma Netflix, sua tamanha repercussão levou ao pedido de reabertura e reanálise do caso dos irmãos, que estão há três décadas presos. Um caso que parece não ter fim.

 

 

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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