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Acervo Temático: Prevenção do Câncer de Colo de Útero

Acervo Temático: Prevenção do Câncer de Colo de Útero

O Outubro Rosa é um importante mês de conscientização para o controle do câncer de mama e, mais recentemente, do câncer de colo de útero. Criado em 1990, pela Fundação Susan G. Komen for The Cure, trata-se de um movimento internacional e, no Brasil, é um mês que incentiva mulheres e grupos-alvo da campanha a realizar exames e buscar a medicina preventiva.

No Brasil, o câncer de mama ocupa a primeira posição na mortalidade por câncer entre as mulheres. Já o câncer de colo de útero, ou cervical, de acordo com o INCA – Instituto Nacional de Câncer, é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres, com 15,38 casos a cada 100 mil mulheres (2021).

A medicina evoluiu bastante e, como sonhamos, é possível prevenir o câncer de colo de útero com a vacinação. Entretanto, novos índices brasileiros mostram uma taxa de vacinação bem abaixo do ideal.

Neste Acervo Temático, discutiremos alguns dados relacionados ao câncer de colo de útero e a sua prevenção, bem como prognóstico. Clamamos para que as instâncias responsáveis desenvolvam políticas públicas efetivas para que a vacinação ocorra nos grupos atendidos pelo SUS.

 

Câncer de colo de útero no Brasil: dados e perspectiva

O câncer de colo de útero é causado pela infecção genital persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano – HPV (chamado de tipos oncogênicos). O HPV é evitado a partir do uso de preservativos, visto que se trata de um vírus transmissível sexualmente.

O câncer aparece a partir de alterações celulares que podem evoluir para um caso maligno. O Papanicolau, exame ginecológico, é essencial para a detecção do vírus e de lesões pré-cancerosas. Nesses casos, o prognóstico é geralmente positivo e proporciona a cura na grande maioria dos casos.

Uma importante maneira de prevenir o HPV, responsável por mais de 95% dos casos de câncer de colo uterino, é a vacinação. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina quadrivalente contra o HPV, para crianças entre 9 e 14 anos que não deram início à vida sexual, ou qualquer pessoa imunocomprometida entre 9 e 45 anos. Mais recentemente, desde agosto deste ano, a vacina tornou-se disponível para vítimas de violência sexual, de 9 a 45 anos. Apesar desta possibilidade muito eficaz, apenas em 2020, a taxa de óbitos por esse tipo de câncer, ajustada pela população mundial, foi de 4,60 óbitos/100 mil mulheres.

Olhando mais profundamente o Brasil, vemos que o Norte lidera o número de mortes causadas por este tipo de câncer. Atrás, ficam o Nordeste e o Centro-Oeste, e, mais abaixo da tabela, Sul e Sudeste, nesta ordem. Inclusive, em 2020, no Norte do país, o câncer de colo de útero foi a primeira causa de óbito de câncer feminino na região, com uma taxa de 9,53 mortes por 100 mil mulheres.

Apesar de todo os estados brasileiros possuírem pelo menos uma unidade ou centro de assistência habilitado no tratamento de câncer, a região Norte ainda carece de uma rede expandida de tratamento. O que acontece é que muitas pessoas vão para São Paulo, para o Hospital de Câncer de Barretos, quando possível, enquanto outras ainda carecem de tratamento especializado em seu estado natal. Por exemplo, Acre e Amapá só possuem cada, um Hospital referência no tratamento de câncer.

Atualmente, pela rede pública de saúde, é possível apenas vacinar adolescentes e vítimas de violência sexual. Isso porque antes do início da vida sexual a proteção da vacina é maior. Apesar disso, estimativas do Inca dizem que 80% das mulheres serão infectadas por um ou mais tipo de HPV em algum momento de suas vidas.

Um grande desafio do HPV é que ele é silencioso. Estima-se que de 25% a 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada pelo papilomavírus. Entretanto, na maioria dos casos o próprio sistema imune cura a infecção entre 6 meses e 2 anos após a exposição. E é por isso que o mês de outubro é tão importante: a detecção é feita apenas por exames específicos, incentivados nesta época do ano.

Quando olhamos os dados da medicina preventiva, os estados brasileiros ainda têm muito que trabalhar. A média brasileira indica que 6,1% das mulheres entre 25 e 64 anos informaram nunca ter realizado citopatológico do colo de útero. Este número sobe para 15,8% na Paraíba, 15,6% em Alagoas e 13,3% no Amapá. Já na proporção de mulheres da mesma faixa etária que realizaram o exame nos últimos três anos, o top três é composto por Rio de Janeiro (86,1%), Santa Catarina (85,8%) e Paraná (85,6%).

 

Índice de vacinação e políticas públicas

A vacinação contra a HPV é realizada em duas doses em meninos e meninas entre 9 e 14 anos ou para qualquer pessoa imunocomprometida entre 9 e 45 anos, com intervalo de 6 meses entre as doses. A proteção se dá contra os sorogrupos 6, 11, 16 e 18, sendo os 2 últimos os principais causadores de câncer. A rede privada hoje dispõe de vacina nonavalente, que protege contra 9 tipos de HPV. Há relatos de que a tetravalente foi descontinuada no mercado privado, e a nova vacina chega a custar R$ 1.000,00 a dose.

Dados da Fundação do Câncer apresentam que apenas 57% das meninas entre 9 e 14 no Brasil completaram o esquema vacinal de duas doses. Essa taxa fica aquém da estipulada pela Organização Mundial da Saúde até 2030: 90% de imunização do público-alvo. Quando analisamos o esquema vacinal incompleto, os dados são melhores, de 76%, o que nos mostra que as crianças e adolescentes não voltam para tomar a segunda dose.

Os dados ficam mais lamentáveis quando olhamos para a região Norte que, como falamos, é onde predomina a mortalidade de câncer de colo de útero no Brasil: o percentual entre as meninas das duas doses é de 50,2% e, dos meninos, 28,1%. É expressamente importante a vacinação também dos meninos que, ao terem relação sexual sem preservativo e não terem ciência de serem portadores do vírus, podem transmitir aos parceiros e parceiras sexuais.

Os dados globais mostram que o Brasil está na frente do mundo se comparado, mas, isso está longe de ser suficiente, pois precisamos ser vanguarda. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que a média global do esquema vacinal completo é de apenas 21%.

Em setembro deste ano, houve uma polêmica envolvendo o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, após este vetar um projeto de lei que propunha campanhas de vacinação em escolas da rede estadual com vistas a ampliar a prevenção do HPV. O governo do Estado “esclarece que as propostas realizadas no Projeto de Lei (PL) Nº 134, de 2022, já são executadas no Estado, mediante diretrizes do Plano Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde e outras legislações já aprovadas.

Ora, nosso índice de vacinação com uma dose é relativamente bom, ficando entre 70% e 80% a depender das regiões do país. Entretanto, é necessário políticas públicas de busca ativa para que o esquema vacinal seja completo: campanhas nas escolas, em locais públicos de alto trânsito, campanhas gerais e atividades de conscientização focados no público-alvo etc. Essas ações devem caminhar lado a lado com uma campanha mais abrangente de vacinação da população; ou seja, não haveria nenhum prejuízo às atividades e programas já desenvolvidos pelo Ministério da Saúde na campanha nacional.

Urge a necessidade de municípios e estados se organizarem de maneira intersetorial e intergovernamental  para que possamos avançar na vacinação e na prevenção do câncer. Se uma vacinação contra o câncer um dia foi um sonho; hoje, é realidade. É possível erradicar no Brasil o câncer de colo de útero, basta querermos.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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