Na semana passada, o Brasil perdeu um dos seus maiores artistas e um dos maiores expoentes da música clássica, o pianista Nelson Freire. Aclamado internacionalmente e vencedor de inúmeros prêmios como o Gramophone Award e o Diapason d’Or, além de três indicações para o Grammy, o pianista morreu após sofrer uma queda em casa aos 77 anos.
Nascido em Boa Esperança, Minas Gerais, em 1944, Freire começou a tocar piano aos três anos de idade, já impressionando pela idade e por recitar músicas de memória, que a sua irmã mais velha, Nelma, tocava. Em 1957, com apenas doze anos, foi o nono colocado no Concurso Internacional de Piano do Rio Janeiro. Após ganhar notoriedade nacional, foi consagrado pelo então presidente Juscelino Kubitschek com uma bolsa de estudos para ir aprender, em Viena, com Bruno Seidlhofer, um dos principais pianistas do século XX
Após seu período na Europa, Freire iniciou a sua carreira internacional, dando recitais nas principais cidades dos Estados Unidos, Europa, América Central, Japão e Israel. Tocou junto aos principais regentes, como Pierre Boulez, Eugen Jochum, Lorin Maazel, Charles Dutoit, Kurt Masur, André Previn, David Zinman, Vaclav Neumann, entre outros. Além disso, foi solista das orquestras mais prestigiadas do mundo, dentre elas a Orquestra Filarmônica de Berlim, a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo, a Orquestra Real do Concertgebouw, a Orquestra Sinfônica de Londres, a Orquestra de Paris e a Orquestra Filarmônica de Nova York.
Seu primeiro álbum no formato de CD foi produzido em homenagem a Chopin. Da produtora Decca, que detinha exclusividade dos direitos de execução da obra do artista, o disco recebeu aclamação internacional, recebendo o Diapason d’Or e um prêmio “Choc” do Monde de la Musique. Em 2009, a Revista Época o classificou como um dos cem brasileiros mais influentes. Em 2013, o “Brasileiro”, seu disco, recebeu o Grammy Latino de melhor álbum clássico.
Em 2016, Freire recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A carreira do autor sofreu um breve um hiato após uma queda, numa calçada no Rio de Janeiro, que resultou numa fratura do ombro. Seu retorno aos palcos estava programado para 2020, um ano após o acidente, mas a pandemia do coronavírus impediu os seus planos.
O New York Times, em memória à Freire, o definiu como um “pianista de consumada musicalidade – um que sentava estoicamente no piano, dispensando qualquer floreio teatral da mão ou da cabeça e entregando performances invariavelmente refinadas de obras do coração dos cânones clássicos”. Tímido, o único pianista a integrar a coletânea Grandes Pianistas do Século 20, publicada em 1999, era ovacionado em suas apresentações. Com um amor resplandecente pela música, Freire acreditava que o ramo não era uma competição e que o artista devia ficar sempre abaixo da música, caso contrário seria uma distorção.
Suas interpretações de Beethoven, Chopin, Schumann, Debussy, Rachmaninoff e Villa-Lobos ficaram marcadas na história da música clássica e devem ser um motivo de orgulho para a sociedade brasileira. Nelson Freire deixa, além da memória de um virtuose, um legado eterno para a nossa cultura.
Nelson Freire, um dos mais talentosos pianistas do mundo, morre no Rio aos 77 anos/G1 (01.11)
“O pianista Nelson Freire, considerado um dos maiores pianistas do mundo, morreu no Rio na madrugada desta segunda-feira (1º). Ele tinha 77 anos.“
Nelson Freire era o Brasil que deu certo/Opinião Istoé (02.11)
“A morte do pianista Nelson Freire nesse momento comove não apenas pelo desaparecimento de um dos grandes nomes da música erudita mundial. É também uma lembrança dolorosa de que o País, em época de guerra civil, ainda é capaz de produzir gênios da raça.“
Os aplausos para Nelson Freire aliviam as vaias para Bolsonaro/Opinião Observatório da Imprensa (02.11)
“Temos muito poucas alegrias artísticas quando juntamos o binômio pandemia e pandemônio político e cultural como acontece no Brasil hoje. Nelson Freire sempre foi um vento de arte, talento e prazer que era obrigatório seguir por onde soprasse. A Sala São Paulo supria esse buraco negro que se infiltrou em nossas vidas brasileiras e sempre foi uma alegria formar fila para comprar DVDs ou CDs depois do concerto e ganhar um autógrafo do envergonhadíssimo artista de toque limpo, sensibilidade poética, qualidade sonora de gênio.“
Nelson Freire, uma questão de elegância/Opinião El País (03.11)
“Elegância sempre foi vista como a proporção de quem pode fazer muito com pouco, assim como a leveza e facilidade dos movimentos. O toque único de Nelson Freire tinha exatamente essas qualidades“
Nelson Freire: Boa Esperança chora a morte do filho que a enaltece/Estado de Minas (03.11)
“A quarta-feira (3/11) em Boa Esperança, no Sul de Minas, começou com muita comoção e homenagem à Nelson Freire. Moradores e familiares deixaram flores em frente a casa que foi do pianista, enquanto esperavam pela chegada do corpo que será enterrado na cidade. O pianista, conhecido mundialmente, morreu nessa segunda-feira (1/11) após uma queda na residência onde morava no Rio de Janeiro.“
Nelson Freire, aclamado pianista, morre aos 77 anos/New York Times (04.11)
Nelson Freire, um pianista brasileiro que ganhou a admiração, se não adoração, de muitos ouvintes da música clássica pela discreta sensitividade que ele trouxe para o trabalho de compositores de Bach a Rachmaninoff e, especialmente, Chopin, morreu aos 77 anos.
Uma lembrança com Nelson Freire nos anos 1970/Opinião O Globo (04.11)
Cora Rónai relembra quando conheceu Nelson Freire na década de 1970.
Nelson Freire: o talento sutil e prodigioso/Veja (05.11)
Felipe Branco Cruz escreve em memória de Nelson Freire, relembrando as conquistas do artista, sua personalidade e a sua importância para a música brasileira.
“A presidência da França divulgou uma nota nesta terça-feira (2) em que homenageia a trajetória do pianista Nelson Freire, morto no começo da semana, relembrando também o período que o brasileiro passou no país europeu.“