fbpx
Fundação Podemos
/
/
Debatendo a Economia: Inflação
Imagem Destacada Inflação

Debatendo a Economia: Inflação

A inflação está de volta?

Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na terça-feira (11/01) confirmaram aquilo que os brasileiros têm sentido diariamente e que muitos guardam traumaticamente na memória: um significativo e constante aumento nos preços de itens básicos de consumo, ou a velha conhecida inflação, que corrói o poder de compra do brasileiro.

De acordo com os últimos dados divulgados, o IPCA-15 (que mede mês a mês a prévia da inflação oficial) bateu na casa dos 10,34% no acumulado até outubro de 2021, registrando alta de 1,20% no mês de outubro, a maior variação para o mês desde 1995. Ainda, o índice fechou o ano de 2021 em 10,42%, com alta de 0,78% no mês de dezembro.

Não há razão para imaginar uma volta do quadro inflacionário dos anos 1980, quando a realidade era outra, mas vale entendermos o que está causando essa elevação nos preços.

No Brasil existem alguns índices que medem a variação de preços, sendo que o mais relevante para o cidadão comum, que reverte quase toda sua renda para o consumo, é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE. Esse índice mede a variação de preços de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo e que compõe a cesta de consumo das famílias.

Dentro dos itens que mais sofreram reajuste até o final de outubro de 2021, puxando o índice para cima, estão a energia elétrica (com alta de 30,78% no acumulado dos últimos 12 meses), o botijão de gás (alta de 35,18%) e a gasolina, campeã de alta (com 40,44%). Não muito atrás estão os produtos de gênero alimentício. De acordo com pesquisa de professores de economia da PUC-PR, os alimentos que compõem a cesta básica sofreram alta de 16% no acumulado de outubro de 2020 a outubro de 2021, com destaque para produtos como café, açúcar e óleo de soja.

Ora, e o que explica essa subida generalizada de preços de produtos tão essenciais para a população?

Para responder a essa pergunta precisamos inicialmente considerar que o atual fenômeno da alta de preços não é uma especificidade do Brasil. A tragédia da pandemia da Covid-19 atingiu todos os países e afetou a economia global, gerando a desorganização da produção e circulação de mercadorias, e o atual momento de relativa volta à normalidade, após o avanço da vacinação, tem revelado certos problemas de oferta, o que tende a elevar alguns preços, como, por exemplo, o das commodities agrícolas. No entanto, de acordo com projeções da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) o Brasil poderá ter a terceira maior taxa de inflação do mundo em 2021, perdendo apenas para Argentina e Turquia. É preciso, portanto, entendermos quais são as especificidades brasileiras.

Causas da atual inflação:

Uma das explicações para a atual subida nos preços é a taxa de câmbio. A moeda americana sofreu uma alta recente, mas a principal variação está na moeda nacional. O real se desvalorizou frente ao dólar, chegando a uma taxa de câmbio de cerca de R$ 5,74 por dólar em dezembro do ano passado. Como o Brasil depende da importação de muitos produtos e insumos, que são pagos em dólar, a subida da moeda americana – ou desvalorização da moeda nacional – encareceu o custo desses produtos. E aqui devemos destacar o impacto do câmbio no preço dos combustíveis, que aumentou desde que se decidiu implementar, no governo Temer, a política de preços de paridade de importação (PPI). De acordo com essa política, os produtos derivados de petróleo e gás devem ter como base o preço de paridade de importação, que são formados pelas cotações internacionais e não pelos custos reais da empresa. Nesse modelo a alta do dólar e a cotação internacional do petróleo se refletem nos preços praticados internamente.

Vale destacar que um aumento no preço dos combustíveis produz impacto no custo de vida em geral, pois não é apenas a gasolina que sobe, mas também o diesel, pressionando o preço do transporte público e, principalmente, do frete, o que impacta no preço final de uma infinidade de produtos, sobretudo alimentícios.

Outra razão para a alta de preços está na valorização das commodities agrícolas. Com o arrefecimento da pandemia e o aumento da demanda internacional, os produtos agrícolas sofreram alta em seu preço, que é determinado fora do país, gerando um incentivo a que os produtores nacionais optassem por exportar sua produção em lugar de abastecer o mercado interno. Com o fim da política de estoques reguladores essas oscilações refletiram-se fortemente nos preços internos, não eliminando, inclusive, o risco de desabastecimento de determinados produtos.

Por fim ainda há o peso de fatores naturais, como secas e geadas, que prejudicaram a safra de alguns produtos agrícolas, gerando problemas de oferta, que, novamente, jogaram para cima os preços, além de impactar também no preço da energia elétrica.

Esse conjunto de fatores produziram aquilo que os economistas chamam de “inflação de custos”, isto, é, os fatores que produzem o aumento nos preços residem no aumento dos custos de produção e circulação (aumento do custo do transporte) de determinados bens, não guardando nenhuma relação com um excesso de demanda por esses produtos. Ao contrário disso, o problema reside no lado da oferta da economia, e não da demanda, que está bastante desaquecida diante de um quadro de desemprego que ultrapassa a casa dos 12% da população.

E o que o governo tem a ver com isso?

Embora o Ministro da Economia aja como se não tivesse qualquer relação com esse estado de coisas, podemos estabelecê-las, a começar pelo câmbio:

Uma economia globalizada e com alta mobilidade de capitais tende a produzir certa volatilidade nas moedas dos países. É verdade também que no atual momento de incerteza pós-pandemia há uma tendência de desvalorização das moedas de países emergentes, pois o dinheiro que circula pelo mundo tende a buscar refúgio no dólar americano. No entanto, o real vem sofrendo uma constante e aguda desvalorização.

Na prática, o valor do real frente ao dólar oscila em função dos fluxos de capitais que entram no Brasil (os chamados “investimentos”, nas suas mais variadas formas, seja investimento externo direto, transações intrafirmas, investimento em portfólios etc.). Embora os ativos no país estejam baratos, a disposição para o capital externo investir em bolsa ou renda fixa tem sido baixa em razão da forte instabilidade política produzida por um governo errático, que produz crises diárias e em constante confronto com as instituições, o que gera incerteza, e, consequentemente, desvalorização da moeda nacional.

Já o preço da energia elétrica e dos combustíveis, principais componentes do atual nível de inflação, são chamados de preços https://fundacaopodemos.org.br/wp-content/uploads/2023/03/semana-municipal-primeira-infancia-sao-paulo-agosto22.pngistrados, isto é, por envolver bens essenciais e que exigem uma gigantesca economia de escala, sendo chamados de “monopólios naturais”, seus preços não podem ser formados “naturalmente” por uma relação oferta-demanda, mas por decisões e arranjos políticos, como vimos no caso da Petrobrás. Por essa razão, tais preços são e devem ser discutidos na esfera política. Ainda que vença uma visão que defenda que a formação de tais preços deve ser relegada a mecanismos de mercado (às custas do cidadão comum), ou, ao contrário, vença a visão de que tais preços devem ser controlados por mecanismos de governo, a decisão será política por excelência, e, portanto, deve ser debatida.

Já o preço das commodities agrícolas não é definido por governos, mas sim pelo mercado internacional. O que os governos podem fazer é criar políticas de incentivo, fomentando, por exemplo, a agricultura familiar, ou criando impostos de exportação. Pode-se retomar ainda uma política dos estoques reguladores, que foi gradativamente desmontada por governos recentes.

O que tem sido feito?

Diante dos índices de inflação publicados pelo IBGE e pelo Banco Central, a resposta mais imediata foi dada pela política monetária. Atualmente a taxa Selic está em 9,25%, 1,5 ponto percentual elevada, se comparada com outubro de 2021. Ainda, o Copom sinaliza provável aumento de 1,5 ponto percentual em fevereiro. O mesmo ocorreu em outubro do ano passado, quando o BC subiu a taxa de juros básica da economia (Selic), elevando-a em 1,5 ponto percentual, para o patamar de 7,75% ao ano.

No regime de metas de inflação o BC deve perseguir uma meta de inflação estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e, para fazê-lo, ele opera no mercado a fim de determinar uma meta para a taxa de juros básica da economia (Selic). A princípio essa operação visa aumentar a taxa de juros quando a economia se encontra aquecida e há pressão sobre o nível de preços, e reduzir os juros quando a economia está desaquecida, estimulando empréstimos e investimento produtivo. No entanto, no cenário atual, a economia se encontra bastante desaquecida, com elevado desemprego e capacidade ociosa ao mesmo tempo em que há elevação na inflação pelos motivos que vimos acima. Mesmo assim o BC central atuou elevando os juros (saindo de 2%a.a em Janeiro de 2021 para os atuais 9,25%), o que desestimula a tomada de crédito, o investimento produtivo e o consumo das famílias, desaquecendo ainda mais uma economia já semi-estagnada. Isso ocorre porque o BC busca recolocar a inflação na meta estipulada pelo CMN e, em suas justificativas institucionais, “ancorar as expectativas dos agentes”, e o faz mesmo que isso gere ainda mais prejuízos à atividade econômica real.

Como visto, o problema atual da economia brasileira que explica a elevação do nível de preços está no lado da oferta e não da demanda. Diante disso, é até possível que as medidas do BC produzam algum efeito – embora não imediato – sobre a inflação. No entanto, além de não atacar suas causas, seus efeitos negativos serão muito mais fortes e não resolverão os principais e urgentes problemas que assolam a população. De acordo com dados do Dieese, um trabalhador que recebe um salário mínimo (R$1.100) comprometeu mais de 56% de sua renda com a compra de alimentos básicos no mês de setembro de 2021. E a tendência é que esse quadro se deteriore ainda mais.

Quem quer que venha a governar o país a partir de 2023 terá que oferecer respostas a esses problemas.

A inflação do “Estado mínimo”/Opinião IREE (21.10.21)

O mundo atravessa um período de forte pressão inflacionária após a pandemia. No Brasil, essas pressões são ainda mais pronunciadas em virtude da forte desvalorização cambial. Compreender as raízes da inflação global (ou mesmo da brasileira) exige ir além de considerações acerca de eventuais dilemas na condução da política monetária e/ou do impacto da pandemia sobre as cadeias produtivas. É preciso compreender as raízes estruturais que ajudam a explicar a dificuldade de controlar a alta dos preços no capitalismo atual. Em grande medida, essas raízes se encontram no desmonte do Estado e na liberalização financeira.

Inflação da cesta básica encosta em 16% em 12 meses; veja lista/Folha (21.10.21)

A inflação dos alimentos que compõem a cesta básica encostou em 16% no acumulado de 12 meses no Brasil. A conclusão é de uma pesquisa lançada por professores do curso de Economia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Os vilões da inflação/Opinião Folha (23.10.21)

Por que os preços de derivados de petróleo —em especial a gasolina, o gás de cozinha e o diesel— não param de subir a ponto de hoje metade da população brasileira ter de recorrer à lenha para cozinhar?

IPCA-15: prévia da inflação fica em 1,20% em outubro e atinge 10,34% em 12 meses/G1 (26.10.21)

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, acelerou a alta para 1,20% em outubro, após ter registrado taxa de 1,14% em setembro, mostram os dados divulgados nesta terça-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Inflação de problemas, déficit de soluções/Focus Brasil (25 – 30/10/21)

“É um equívoco considerar que a subida dos juros e a busca desenfreada de “ajuste” fiscal a qualquer preço, como faz o governo, vão resolver a inflação. Essas não são políticas e medidas neutras, mas proporcionam elevados ganhos a alguns privilegiados”

Terror sai das telas para a vida do consumidor/Opinião Folha (16.11.21)

Os filmes de terror fazem muito sucesso em países como os Estados Unidos. Mas atualmente, no Brasil, todos eles parecem contos de fada. Afinal, o consumidor se apavora, frequentemente, quando lê que a Petrobras definiu novo reajuste dos combustíveis. Ou em atividades corriqueiras, como ir ao supermercado, passar perto do açougue ou receber a conta de luz.

Governo aumenta previsão de inflação e reduz estimativa de crescimento do PIB para este ano/G1 (17.11.21)

O Ministério da Economia aumentou a previsão de inflação para este ano e reduziu a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 e em 2022.

Ata do Copom sinaliza fim do ciclo altista dos juros em 11,75%, em 2022 / Suno (14/12/21)

“Após suas considerações, os membros do Copom concluíram que “o ritmo de ajuste de 1,50 ponto percentual, neste momento, é adequado para atingir, ao longo do ciclo de aperto monetário, um patamar suficientemente contracionista para não somente garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, mas também consolidar a ancoragem das expectativas de prazos mais longos.”

Em carta ao Ministério da Economia, BC aponta para continuidade de alta de juros em 2022 / InfoMoney (11/01/22)

“Em 2021, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 10,06%. Isso significa que a taxa não só ficou acima da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano (de 3,75%) como extrapolou o limite de tolerância – o teto da meta, que seria de 5,25%.”

Reforma trabalhista retirou direitos e gerou desemprego / Folha (10/01/22)

“Em primeiro lugar, não é verdade que o projeto da reforma trabalhista resultou de um “intenso diálogo entre as forças produtivas da nação: empregados e empregadores”. As centrais sindicais propuseram ao então ministro do Trabalho que fosse criada uma mesa de diálogo social tripartite para tratar da meia dúzia de propostas sobre negociação coletiva que o governo nos apresentava, o que, evidentemente, o governo não criou. Conversa não é diálogo social tripartite. Assim mesmo, fizemos propostas para o projeto que o Executivo encaminharia ao Congresso. Propostas que não foram incorporadas.”

Após pico em 6 anos, inflação deve frear em 2022, mas com riscos, dizem analistas / CNN (11/01/22)

“A inflação em 2021 ficou consideravelmente acima do teto da meta do governo, de 5,25%, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechando o ano em 10,06%. O valor é o maior nos últimos seis anos, mas economistas esperam que o quadro inflacionário em 2022 seja menos negativo, apesar de riscos.

O movimento de alta da taxa Selic pelo Banco Central, que passou de 2% em janeiro de 2021 para os atuais 9,25%, deve ser o principal responsável pela desaceleração da inflação.”

Com resultado do INPC, reajuste do salário mínimo anunciado pelo governo para 2022 não cobre inflação / G1 (11/01/22)

“O governo utilizou um percentual de inflação menor do que deveria para reajustar o salário mínimo de 2022. Com isso, o salário mínimo de R$ 1.212 fixado pelo governo federal para este ano não repõe integralmente a inflação do ano passado.”

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

Compartilhe:
como citar
Últimas publicações
Acompanhe nosso conteúdo
plugins premium WordPress