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Acervo Temático: Glória Maria
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Acervo Temático: Glória Maria

O mês de fevereiro de 2023 iniciou-se com uma perda imensurável para a sociedade brasileira. A icônica jornalista da TV Globo Glória Maria faleceu depois de uma longa batalha contra o câncer. Glória Maria foi uma pioneira em diversos aspectos no telejornalismo brasileiro.

Sua luta contra o câncer foi longa. Em 2019, a jornalista foi diagnosticada com câncer de pulmão, tendo um tratamento bem-sucedido. Infelizmente, depois, sofreu metástase no cérebro, mas, por meio de uma cirurgia, teve boa responsividade em relação à doença. Entretanto, desde meados de 2022, foi submetida a uma nova etapa de tratamentos para combater novas metástases cerebrais. O último tratamento não teve sucesso e Glória nos deixou no dia 02 de fevereiro na cidade do Rio de Janeiro.

Gloria Maria deixa duas filhas, adotadas em 2009. Maria, de 15 anos e Laura, 14. O processo de adoção das duas durou cerca de 11 meses e Glória chegou a se mudar para Bahia, terra natal de suas filhas, para ficar perto delas durante todo o processo de adoção.

A história do telejornalismo brasileiro, tão importante para a democracia e para o acesso à informação, e a história de Gloria Maria se confundem com uma certa frequência. Por exemplo, a jornalista foi a primeira do Brasil a entrar ao vivo e em cores, em 1977, no Jornal Nacional. Foi também a primeira vez que uma repórter ficou numa situação complicada no ar, pois a lâmpada queimou e precisaram utilizar o farol de uma Veraneio (carro usado pelo TV Globo nas reportagens) para que a reportagem pudesse continuar.

Gloria Maria estudou toda a sua vida em escola pública, sendo aluna de destaque. Depois, cursou Jornalismo na PUC-Rio, conciliando os estudos com o emprego de telefonista da Embratel. Em 1970 se tornou radioescuta da Globo no Rio, quando as informações sobre a cidade eram apreendidas pela escuta de frequências de rádio da polícia. Estreou como repórter um ano depois, quando os jornalistas ainda não apareciam em vídeo.

Glória Maria trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom Dia Rio. O longo e respeitado trabalho de Glória não impediu que ela fosse, também, vítima de odioso racismo inúmeras vezes. O ex-presidente do período militar João Figueiredo, por exemplo, falava para sua equipe de segurança “não deixe aquela neguinha chegar perto de mim”. A fala de Figueiredo se deu após um episódio em que, gravando para a TV Globo o discurso em que afirmou “E quem quiser que não abra, eu prendo. Arrebento. Não tenha dúvidas”, se referindo à abertura política, Glória rebateu dizendo: “Presidente, é a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia repetir?”. Figueredo então respondeu: “Problema seu, eu não vou repetir”.

A jornalista, depois de trabalhar no Fantástico, foi para o Globo Repórter, onde rodou o mundo com viagens exóticas. Além disso, durante seu tempo no Fantástico, cobriu acontecimentos históricos importantes, como a posse de Jimmy Carter nos Estados Unidos (1977), a Guerra das Malvinas (1982), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo da França (1998).

O jornalismo brasileiro não seria o mesmo sem Glória Maria. A perda deste ano é imensurável para esta atividade tão vital para a democracia. Glória, que se pronunciou tantas vezes contra o racismo da sociedade brasileira, deixa um legado importante e histórico. Seu exemplo de profissionalismo e perseverança é a história de uma mulher negra que foi gigante, por sua competência, inteligência e irreverência, num país marcado pelo machismo e pelo racismo. Glória Maria deixou a vida para se tornar, em definitivo, patrimônio da história e da cultura brasileira.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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