No dia 14 de setembro, foi celebrado o centenário de Dom Paulo Evaristo Arns. Nascido em Santa Catarina, em 1921, foi ordenado sacerdote em 1945. Dom Paulo Evaristo Arns estudou Letras na Sorbonne, em Paris, doutorando-se em 1952. Após o retorno para o Brasil, lecionou nas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Agudos e Bauru. Em 1966, foi eleito Bispo titular de São Paulo, sendo nomeado, em 1970, pelo Papa Paulo VI, Arcebispo Metropolitano de São Paulo.
Com uma densa formação universitária, Dom Paulo Evaristo Arns poderia ter sido tão somente um grande teólogo e estudioso. Todavia, sua vida voltou-se para além da contemplação e espiritualidade. Sua vontade de agir, marcada pela caridade e pela solidariedade, fez com que devotasse seu trabalho para os moradores da periferia, para os trabalhadores e para a formação de comunidades eclesiásticas de base. Dom Paulo foi um grande humanista, tendo atuado diretamente na defesa dos direitos humanos. Não é por outra razão que foi, então, considerado o Cardeal dos Direitos Humanos.
Dom Paulo teve uma forte atuação política na defesa dos direitos fundamentais durante o período da ditadura militar (1964 – 1985). Foi um dos grandes articuladores da grande missa ecumênica em homenagem a Vladimir Herzog no ano de 1975, juntamente com o Rabino Henry Sobel e o reverendo evangélico James Wright. Sua posição de defesa e afirmação dos direitos humanos foi fundamental para o caminho da redemocratização brasileira.
Ainda em 1969, quando era Bispo, atuou na defesa de seminaristas que protegiam e ajudavam militantes opositores. Em 1972, criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CJP) de São Paulo. A CJP foi criada no Brasil após iniciativa similar em Roma e, de acordo com o Papa Paulo VI, com o objetivo de desenvolver o “estudo dos grandes problemas da justiça social, com vistas ao desenvolvimento das nações jovens e especialmente quanto à fome e à paz no mundo”.
Em 1974, apresentou um dossiê de 22 desaparecidos ao general Golbery do Couto e Silva, um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de espionagem da ditadura. Dom Paulo queria saber onde estavam essas pessoas e o que tinha acontecido com elas. Planejou, ainda, uma operação para a entrega de nomes de desaparecidos e torturados para o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, que havia mudado a orientação dos EUA em relação às ditaduras latino-americanas, passando a condená-las, a partir da defesa dos direitos humanos. Entre 1979 e 1985, coordenou o projeto Brasil: Nunca Mais de forma sigilosa. Tratava-se de um importante documento da história da ditadura, em que foram sistematizadas 1 milhão de páginas contidas em 707 processos do Superior Tribunal Militar.
Após o período militar, Dom Paulo Evaristo Arns foi apoiador do movimento das Diretas Já. Em 1985, criou a Pastoral da Criança com a sua irmã Zilda Arns. A Pastoral da Criança tem como objetivo a promoção do desenvolvimento integral de crianças entre 0 e 6 anos de idade em seu ambiente familiar e em sua comunidade.
Dom Paulo recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Notre Dame, Estados Unidos e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Além disso, recebeu o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA).
A trajetória de Dom Paulo Evaristo Arns reflete a certeza de que em tempos sombrios, homens pautados pela esperança, pela empatia, pelo amor ao próximo e pelo respeito aos direitos humanos fazem toda a diferença. Seu legado é extraordinário e uma lição a ser sempre lembrada.
Confira as principais notícias sobre o centenário de Dom Paulo Evaristo Arns:
Comemorando dom Paulo/Opinião Estadão (14.08)
Dom Odildo Pedro Scherer escreve sobre a história de Dom Paulo Arns, sua vida eclesiástica e a sua resistência à ditadura militar.
Dom Arns: um gigante da resistência democrática/Dom Total (08.09)
Luís Corrêa Lima conta a história de Dom Arns e afirma que “Hoje, os brasileiros são beneficiários dos que resistiram à ditadura e se mobilizaram pela redemocratização do país. Mas a democracia brasileira está ameaçada.”
Dom Paulo e a teimosa esperança/Opinião Estadão (11.09)
Dom Odildo Pedro Scherer fala sobre como Dom Paulo Arns se tornou arcebispo de São Paulo e como ele se empenhou “na realização de pequenas e grandes esperanças das comunidades da periferia urbana e do povo empobrecido.”
Dom Paulo Evaristo Arns completa 100 anos pois sobrevive como exemplo dos direitos humanos/Opinião Estadão (13.09)
Juca Kfori escreve em memória de Dom Evaristo Arns, que completaria 100 anos na última terça-feira (14.09).
O guerreiro da liberdade/Blog Estadão (14.09)
O jornalista Ricardo Viveres escreve sobre Dom Evaristo Arns afirmando que ele era “um ser humano completo para quem viver foi sempre participar. Uma lição de vida, um exemplo, um cidadão brasileiro a ser — por inquestionável merecimento —, reverenciado e jamais esquecido.”
Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal da resistência à ditadura, faria 100 anos/UOL (14.09)
“Cardeal da resistência, da periferia, do povo da rua, dos operários, dos direitos humanos ou, simplesmente, o cardeal da esperança. Assim era descrito dom Paulo Evaristo Arns, cujo nascimento completa cem anos hoje, em 14 de setembro. Ele viveu até os 95 anos, morrendo em dezembro de 2016.”
Dom Paulo Arns, 100 anos/Carta Maior (16.09)
“É muito impressionante, emocionante mesmo, a autobiografia de D. Paulo Evaristo Arns, Da esperança à utopia. Testemunho de uma vida (Rio de Janeiro: Sextante, 2001), depoimento histórico sobre o Brasil posterior à II Guerra Mundial, essencialmente sobre o pós-64.“
Dom Paulo Evaristo Arns, um ícone da democracia e dos direitos humanos/Jornal USP (17.09)
“Há exatamente um século – dia 14 de setembro de 1921, para ser bem exato – nascia, na distante Forquilhinha, no interior de Santa Catarina, o quinto filho dos agricultores Gabriel Arns e Helena Steiner. Ao todo, o casal teria 16 filhos, mas dois deles fariam parte da história do País: uma, a médica pediatra e sanitarista Zilda, a décima terceira da prole, que morreria aos 75 anos no terremoto do Haiti em 2010. E aquele quinto filho, Paulo Evaristo, que se tornaria um ícone dos direitos humanos e da luta pela democracia no Brasil, conhecido como o cardeal arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns.“