fbpx
Fundação Podemos
/
/
A resenha: Toda luz que não podemos ver

A resenha: Toda luz que não podemos ver

Adaptada do romance do escritor norte americano Anthony Doerr, Toda luz que não podemos ver (2023) é uma minissérie dividida em apenas quatro capítulos, que conta a história de uma jovem francesa, cega desde seus primeiros dias e um jovem soldado alemão, que nunca quis se alistar nas fileiras de Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial no território francês ocupado pelos nazistas.

O livro, que rendeu a Doerr o prêmio Pulitzer de ficção no ano de 2015, foi extremamente bem recebido pela crítica literária, sendo considerado, até os dias atuais, como a obra prima do autor. Como toda adaptação de um livro de sucesso, a minissérie feita pela Netflix contou com algumas críticas não tão favoráveis. Todavia, se elas não foram as melhores, o público muito bem a recebeu e ela acabou sendo, inclusive, indicada ao Globo de Ouro de 2024.

Toda luz que não podemos ver conta com um excelente elenco. Mark Ruffalo (Pobres Criaturas, Os Vingadores), sempre competente em suas atuações, vive Daniel LeBlanc, o pai de Marie-Laure LeBlanc, interpretada pela jovem estreante Aria Mia Loberti. Marie e seu pai, viúvo, vivem em Paris, onde ele trabalha como serralheiro do Museu de História Natural da França, que, além do acervo, guarda peças especiais como um diamante extremamente raro, mítico e desejado. Marie-Laure é uma menina criativa, amada pelo pai e muito inteligente. Quando Marie-Laure ficou cega, seu pai, talentoso e estudioso, construiu uma maquete do bairro onde moravam para que ela pudesse andar pelas ruas com autonomia e segurança. Marie, sonhadora e curiosa, passava boa parte do seu tempo ouvindo as transmissões de rádio de um professor, que, além de ensinar coisas sobre o mundo e a natureza, refletia sobre a vida. Esse professor não falava seu nome, nem quem ele realmente era, tampouco o local de onde transmitia seu programa. Eram apenas vozes na escuridão.

A relação de Daniel e Marie-Laure é extremamente doce e bonita. Por mais que a filha não possa ver, o pai tenta carregar e preencher de luz o mundo para ela. O amor e o afeto que um tem pelo outro dá um tom lírico para a narrativa, cujo pano de fundo é marcado por um cenário obscuro e sombrio.

O jovem ator alemão Louis Hoffman, conhecido pela sua atuação na famosa série Dark, vive Werner Pfenning, um rapaz extremamente inteligente, que se torna um especialista em rádio transmissão. Sua capacidade quase sobrenatural de operar, montar, desmontar e construir aparelhos de rádios transmissores chama a atenção dos nazistas, que o recrutam, contra sua vontade, separando-o violentamente de sua irmã, para localizar fugitivos do regime de terror. Assim como Marie-Laure, Werner escutava desde pequeno as transmissões do professor, que no silêncio da escuridão, enchia de luz e sentido as vidas de ambos durante a solidão da madrugada.

Quando os nazistas invadem Paris, Daniel e Marie-Laure fogem às pressas para Saint-Malo, uma cidade portuária localizada na região da Bretanha. Lá vive o tio-avô de Marie, Etienne LeBlanc, vivido por Hugh Laurie (House, O pequeno Stuart Little), um ex-soldado da Primeira Guerra Mundial, que vive o pesadelo de seus traumas por conta dos horrores que viu, lutando, ainda assim, na resistência francesa. O que muitos não sabem é que, além de tudo isso, Etienne esconde um segredo.

A fuga de Daniel e Marie é desesperada. Em um misto de medo e esperança, eles fogem com praticamente só aquilo que conseguem carregar. Contudo, Daniel leva consigo um precioso diamante, patrimônio histórico da França, que sabe ser desejado pelos nazistas não somente por conta de seu valor físico, mas também em razão de uma lenda que gira em torno dele.

Quem mais deseja esse diamante é Reinhold Von Humpel, interpretado por Lars Eidinger (Dying, Uma lição de esperança), um oficial de alta patente de Hitler, cruel e implacável, especialista em artes e joias. Reinhold é quem verifica para os nazistas o que tem valor para ser saqueado e inscrito no acervo criminoso construído pelo Reich. Entretanto, Reinhold deseja colocar as mãos no diamante que Daniel esconde por um outro motivo.

Todas essas vidas se cruzam no horror da guerra na cidade de Saint-Malo. Em meio a bombardeios, a delicadeza e a bondade se entrelaçam à crueldade e a brutalidade de tudo aquilo que o conflito pode proporcionar. Daniel tenta proteger sua filha e o diamante. Reinhold procura salvar a si mesmo, não importando se tiver que destruir qualquer um que impeça o seu objetivo e cruze seu caminho. Etienne procura forças para lutar contra seus traumas e seguir com a resistência. Werner, no melhor exemplo de que em meio ao horror algo de bom pode nascer, luta para que seu trabalho não destrua a vida de outras pessoas.

Toda luz que não podemos ver é uma espécie de fábula sobre como diante de toda escuridão e da tragédia, aquilo que nos conecta, preserva a nossa humanidade, nem sempre é possível de ser visto, mas está lá, em algum lugar, à nossa procura ou nos esperando. Afinal, nem toda luz que existe no mundo precisa ser vista para que saibamos que ela existe.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

Compartilhe:
como citar
Últimas publicações
Acompanhe nosso conteúdo
plugins premium WordPress