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A Resenha: Quincas Borba
Resenha do Livro Quincas Borba de Machados de Assis

A Resenha: Quincas Borba

Quincas Borba, a obra de um dos maiores autores literários brasileiros, Machado de Assis, é ainda extremamente atual.

Com forte crítica à burguesia, o livro de Machado de Assis conta a história de Rubião que herdou toda a fortuna de seu amigo Quincas Borba, tendo apenas uma condição: que cuidasse de seu cachorro de mesmo nome.

Rubião, que havia tentado casar sua irmã, Maria da Piedade, com seu amigo rico, viu-se com uma fortuna que, até então, o professor de Barbacena, em Minas Gerais, nunca imaginou que teria um dia em posse. O livro é ambientado no século XIX, entre 1844 e 1870 e se passa  na cidade de Barbacena e do Rio de Janeiro, mais precisamente nos bairros de Botafogo e do Flamengo.

Herdada a fortuna, Rubião toma posse do cão e parte para o Rio de Janeiro. No trem, conhece um casal de desonestos; Sofia, por quem desenvolve uma paixão avassaladora, e seu marido, Cristiano Palha. A relação do casal com Rubião é permeada de interesses financeiros, tendo sido no próprio trem o local e o momento em que o antigo professor fez a revelação de que era herdeiro universal de uma fortuna.

Com a anuência do marido, Sofia passa a seduzir o jovem ricaço. Além desses casais, permeiam a narrativa os amigos, Carlos Maia, Camacho e Freitas. Palha consegue, nos capítulos sequenciais, tornar Rubião seu sócio, além de conseguir dinheiro com o amigo para quitar dívidas.

Em um episódio de coragem, Rubião salva Deolindo, um menino de apenas dois anos, de ser atropelado, o que leva o herdeiro a figurar nas páginas do jornal Atalaia. Rubião, então, se vê entorpecido pela falsa modéstia.

O narrador, onisciente, nos dá alguns fatos sobre Sofia, esposa de Cristiano Palha, “amigo” e sócio do herdeiro. A galante mulher tem um caso amoroso com Carlos Maia e é neste ponto da história que Rubião passa a apresentar sintomas de sua loucura. A ironia é Carlos Maia casar-se com a prima de Sofia, Maria Benedita, e com ela ir morar na Europa, voltando à Coroa e ainda esperando um filho.

Com o casamento dos dois, Rubião mostra-se cada vez menos são. E é neste momento que Rubião convoca um barbeiro para deixá-lo igual ao Napoleão III. A partir daí, o herdeiro passa a dizer que é o próprio Imperador, em momentos de alucinação. A morte de Rubião acontece em 1870, mesmo ano que Napoleão III foge para o exílio na Inglaterra.

O livro possui um contexto histórico específico que o faz ter a narrativa e a crítica que possui. Três fatos históricos são importantes em nossa análise: a lei Eusébio de Queirós (1850), que proibia o tráfico de escravos; a Guerra do Paraguai (1864-1870); e o movimento republicano, adiantando-se à Proclamação da República (1889).

O livro possui relação com outra obra de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde é relatada a morte do filósofo Quincas Borba. Essas duas obras, juntamente com Dom Casmurro, revolucionaram a literatura brasileira, introduzindo o Realismo.

A crítica não se centra apenas aos amigos aproveitadores de Rubião, mas também à sua própria mania de grandeza e ambição. É importante lembrar que os principais interesseiros, Cristiano e Sofia Palha, sugam toda a fortuna de Rubião e depois o abandonam, no ápice da sua loucura.

Mais do que isso, o livro apresenta uma espécie de modernização das estruturas econômicas e o embate entre duas formas de exploração, isto é, o fim da escravidão e o início do capitalismo financeiro, representado, sobretudo, por Palha. O livro coloca o dinheiro como aquilo que rege as nossas vidas.

Humanitas, a filosofia que foi criada por Quincas Borba – o humano – continua a se perpetuar na imagem do cachorro. Esta filosofia é centrada no homem, e trata-se de uma crítica às teorias importadas que perpetuaram, e continuam a perpetuar, barbaridades, como o Darwinismo Social, o positivismo e outros determinismos.

Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cortejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista.

É assim que se inicia o livro e aqui já podemos entender que a crítica vai muito além do mero romance. Rubião não apenas herdava a fortuna, herdava o modo de vida. E Machado de Assis continua…

Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para casa, para o jardim, para a enseada, para os morros, para o céu; e tudo, desde as chinelas até o seu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

Vemos, assim, que a propriedade, base da sociedade capitalista, é o que encanta Rubião. E não se engane, caso tenha acreditado  na benevolência do antigo professor em tomar conta de Quincas Borba – o cão – lembre-se, ele havia se livrado do animalzinho, até ter ciência da condição de receber a herança de maneira universal.

Outro fator que é apresentado é a mudança na sociedade ocasionada pelo fim do tráfico de escravos. No terceiro capítulo, Machado, com ironia, critica:

O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos.

Machado de Assis é um dos maiores escritores brasileiros e, como já mencionamos, introduziu o Realismo no Brasil. Nascido em 1839, filho de pai brasileiro e mãe nascida em Açores, domínio de Portugal na época, Machado não teve uma vida fácil, sobretudo pela morte da mãe e da irmã.

Escritor literário e jornalista, suas obras foram permeadas por críticas à vida social da época e à vida colonial.

Leituras obrigatórias para a FUVEST, as obras de Machado de Assis, sobretudo em relação às suas contextualizações históricas, recorrentemente figuram no ENEM.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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