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A resenha: Os Rejeitados

A resenha: Os Rejeitados

Ambientado na Nova Inglaterra durante o Natal de 1970, Os Rejeitados é uma comédia dramática sobre a insólita conexão que surge entre três pessoas infelizes, deprimidas e que foram simplesmente, cada uma dentro de seu próprio contexto e em vários sentidos, deixadas para trás. Um professor de história rabugento e odiado pelos alunos, um aluno problemático com um histórico de expulsões e uma mãe enlutada pela perda do filho na guerra são obrigados a passar as festas de final de anos juntos dentro da instituição a que estão de alguma maneira vinculados: o colégio Barton.

Paul Hunham, interpretado pelo indicado ao Oscar de melhor ator, Paul Giamatti, é um professor de história antiga solitário, cuja vida profissional praticamente se resume a Barton. Extremamente exigente com seus alunos, ele é odiado pelo corpo discente e pouco apreciado pelo corpo docente. Por conta de sua estrita ética profissional, se recusou a aprovar um aluno, que, apesar de péssimo desempenho, era filho de um senador. A diretoria do colégio tentou convencer Paul a aprovar o aluno para que não tivesse problemas, mas ele foi irredutível. Diante disso, para punir o professor de história por sua “inflexibilidade”, o diretor o escolheu para ser o professor tutor dos alunos que, não tendo para onde ir nas festas de final de ano, ficariam na instituição durante as férias de inverno.

Assim, um grupo de alunos passaria o mês todo com Paul e a chefe do refeitório de Barton, a senhora Mary Lamb, que havia acabado de perder o filho e estudante da instituição, Curtis Lamb, morto na guerra do Vietnã. Mary visivelmente ainda não havia digerido todo o processo de luto pela morte do filho. Muito por conta disso, ela sente uma espécie de repulsa em relação aos alunos pela injustiça que vê entre o trágico destino do seu filho e o privilégio que eles possuem em suas vidas.

Um dos alunos que fica, então, preso com o professor Paul e Mary é filho de um homem extremamente rico que resolveu não levá-lo para as férias com a família por ele se recusar a cortar seus cabelos longos. Contudo, como o próprio estudante previa, logo o pai amoleceria o coração e viria buscá-lo. Ao fazer isso, o pai do menino vem com um helicóptero para buscar o filho. O professor Paul resolve entrar em contato com os pais dos demais estudantes que estão lá presos com ele para saber se poderiam se juntar ao rico menino e juntos passarem as férias. Ele consegue entrar em contato e ter a autorização de todos, exceto de um aluno, Angus Tully, cuja mãe o deixou para trás para passar as férias em paz com o seu novo marido.

Dessa maneira, aquilo que já era solitário se tornou mais ainda, pois apenas três pessoas ficaram juntas em Barton. É a partir desse momento que a conexão entre Paul, Angus e Mary começa a nascer.

Angus, vivido pelo jovem e surpreendente estreante Dominic Sessa, de apenas 21 anos, é um jovem estudante que tem problemas disciplinares no colégio. Já havia sido expulso de outras instituições e não obtém notas muito altas. Paul, que era professor de Angus, o achava um aluno mimado e irritante. Contudo, aos poucos, ambos vão se conhecendo e percebendo que possuem algo em comum: a dor da rejeição. Angus é, na realidade, um menino muito inteligente, que sofre com sua baixo autoestima e sente muito a perda do pai. Sua mãe não lhe dá o carinho e atenção que ele precisa, e isso o torna extremamente infeliz e depressivo. Aos poucos Paul vai se dando conta disso, ao passo que ele mesmo vai se abrindo com Angus e mostrando que não é um velho rabugento insensível, mas sim uma pessoa extremamente inteligente, que também sofreu com os percalços da vida, injustiças e para aplacar a dor encontrou no álcool alguma companhia. Nesse sentido, Paul é praticamente um alcóolatra, pois está sempre bebendo, não importa se é o momento do café da manhã ou da janta.

Ao passo que Paul vai conhecendo melhor Angus e desenvolvendo um afeto em relação a ele, Angus vai entendendo melhor o seu professor, descobrindo que por trás daquela armadura de proteção havia um homem gentil, bom e preocupado com o futuro dos alunos. No encontro de ambos, Mary vai processando sua perda, colocando para fora todo seu sentimento e encontrando conforto no bebê que virá ao mundo, filho de sua irmã.

Os Rejeitados, dirigido por Alexander Payne, de Sideways e Os Descendentes, é um belo filme, com uma fotografia esplendorosa que remonta com fidelidade o ambiente dos EUA do início da década de 1970, com elementos curiosos e muito bem colocados, como o uso de programas de televisão daquela época e as tonalidades marrom-amareladas, misturadas com o imenso branco da neve. Além disso, o filme por si só já vale pela atuação simplesmente formidável de Paul Giamatti, Dominic Sessa e Da´Vine Joy Randolph, que, inclusive, levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante de 2024 pelo filme.

Assim, entre cenas irônicas, engraçadas, sensíveis e realmente tocantes, Os Rejeitados é uma história sobre abandono, tragédias pessoais, mas também amizade e encontro. No fundo é uma pequena fábula sobre como cada pessoa é um mundo e que nas relações da vida, do dia a dia, muitas vezes pouco sabemos um do outro. É preciso tempo, convívio e empatia para realmente conhecermos as razões que levam as pessoas a agirem de uma forma ou de outra. Se por um lado é o próprio ser humano que machuca e causa tanto mal um ao outro, por outro é principalmente no convívio com os outros, no amor e na amizade, que conseguimos encontrar um caminho para suportar os traumas e amenizar as dores de toda a nossa trajetória. É no encontro com o outro que podemos curar as nossas mais profundas e dolorosas feridas.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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