fbpx
Fundação Podemos
/
/
A Resenha – Operação Final

A Resenha – Operação Final

A história que possibilitou que o mundo ouvisse os testemunhos dos sobreviventes do genocídio judeu.

A Operação Final, filme baseado em fatos reais produzido pela Netflix, conta a história da captura de Adolf Eichmann (Ben Kingsley) na Argentina para seu julgamento em Jerusalém. Trata-se de um longa extremamente interessante, que joga luz às questões envolvendo a captura pelo Mossad, instituto de inteligência e operações especiais de Israel, de um dos grandes arquitetos da Solução Final, que contribuiu para executar mais de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Quando falamos do Estado Alemão Nazista sempre pensamos no grande líder: Adolf Hitler. Mas, havia um segundo Adolf que teve papel central na implementação da Solução Final: Eichmann. Essa “solução final para a questão judaica”, como descrito pelo General da SS, Reinhard Heydrich, ao diplomata Martin Franz Julius em carta, tinha como objetivo acabar com a presença judia em territórios ocupados pela Alemanha. A partir daí, judeus passaram a serem concentrados em guetos e, posteriormente, em campos de extermínio.

Eichmann era o responsável pela coordenação da perseguição, do sequestro e da deportação de milhares de judeus, que, em sua grande maioria, morreram em campos de concentração. Com o fim da guerra, Eichmann foi preso por soldados americanos em 1945, escondendo a sua identidade. Sob nome falso e após fugir com outros presos, trabalhou como lenhador no norte da Alemanha. De lá, em 1950, com auxílio da Odessa, organização secreta de ex-oficiais da SS, fugiu do país, indo para a Itália. Ali, conseguiu ajuda de um padre franciscano, que forjou documentos falsos para que se deslocasse para a Argentina, se estabelecendo, por fim, na periferia de Buenos Aires.

 

Por que a Argentina?

 

A relação da Argentina com o nazismo remonta à década de 1930, quando o então presidente simpático ao nazismo, José Feliz Uriburu, governava o país. Da mesma forma seu sucessor, Agustín Pedro Justo. Desta maneira, entre 1930 e 1938 a Argentina teve governos favoráveis e simpatizantes aos nazistas, que chegaram ao poder na Alemanha contemporaneamente.

Com o final da Guerra, muitos oficiais de alta patente buscaram fugir dos julgamentos que seriam feitos pelos aliados, por isso fugiram da Europa tendo como destino, sobretudo, as Américas; mais especificamente: a Argentina. Ironicamente, o país também possui a maior população judaica fora de Israel do mundo.

A literatura histórica mainstream afirma que a escolha de ir para a Argentina era pelo fato de haver uma simpatia de Perón, que se tornou presidente em 1946, com o Terceiro Reich. Mas, a literatura mais recente indica algumas outras explicações. A principal delas é de que havia um acordo, desde 1943, quando a Argentina sofreu o golpe de Estado conhecido como a Revolução de 1943, entre a marinha argentina e a Schutzstaffel, a SS. Esse acordo secreto, de acordo com o jornalista argentino Uki Goñi, garantia, para os alemães, documentos falsos para que pudessem circular livremente na América do Sul, e, para os argentinos, informações confidenciais sobre seus vizinhos.

O jornalista, então, afirma que após o final da guerra, este acordo foi mantido, mas para a manutenção da emissão de documentos falsos com o intuito de resgatar os nazistas. Um desses nazistas foi Eichmann.

 

A Operação Final

 

O filme começa de maneira muito direta: há indícios de que Eichmann, que havia desaparecido, pudesse ter sido encontrado através de um relacionamento entre uma judia criada como católica e seu filho: Klaus Eichmann (Joe Alwyn). Inicialmente, o diretor do Mossad, Isser Harel (Lior Raz), acredita ser extremamente arriscado seguir uma pista como esta. Mas, o então primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion (Simon Russell Beale), autoriza a organização que caçava e matava nazistas a realizar uma de suas mais importantes missões: sequestrar Eichmann para que fosse julgado em Jerusalém.

O sequestro de Eichmann foi uma operação extremamente arriscada e ilegal, sob a perspectiva do Direito Internacional, visto que tinha como pressuposto sequestrar uma pessoa invadindo o espaço de um Estado soberano – a Argentina – ao invés de ser negociada diplomaticamente uma extradição.

Então, formou-se uma equipe composta por Peter Malkin (Oscar Isaac), Hanna (Mélanie Laurent), Harel, Rafi (Nick Kroll), Zvi Aharoni (Michael Aronov), Ephraim Ilani (Ohad Knoller), Yaakov Gat (Torben Liebrecht) e Moshe Tabor (Greg Hill) para viajar à Argentina para sequestrar Eichmann e levá-lo à Jerusalém.

O filme é um longa com pitadas do gênero policial, muito embora se mostre muito mais profundo que isso em diversos momentos. Primeiro, mostra Eichmann como um homem comum, imagem (ou realidade) que ele construiu durante seu julgamento em Jerusalém. Essa imagem que Eichmann construiu era de que ele tinha pouca interferência na hierarquia nazista, não passando de um burocrata seguindo ordens. Ou seja, não era um monstro como Israel queria demonstrar durante o julgamento. Era, todavia, um homem comum, ordinário, que, apesar da “normalidade” foi capaz de cometer tamanha monstruosidade. Em relação a isso, importante mencionar a obra fundamental para qualquer estudo na área de Hannah Arendt, intitulada “Eichmann em Jerusalém”, onde a filósofa discute aspectos da personalidade de Eichmann, a natureza de seus crimes, a validade do julgamento feito em Jerusalém e elabora o seu famoso conceito sobre a banalidade do mal.

O segundo ponto é que, de forma sutil e não apelativa, o longa mostra as diversas reações de membros do serviço de inteligência judeu de estar frente a frente com um dos maiores orquestradores e organizadores da Solução Final. O filme ganha com bons diálogos e uma construção narrativa para lá de interessante. Traz, também, alguns momentos de adrenalina, apontando erros da equipe do Mossad, que poderiam ter comprometido toda a operação de alto risco. Afinal, como mencionamos, era uma operação ilegal sob a perspectiva das regras internacionais, que pressupunha sequestrar Eichmann de um Estado soberano, sem que o país tivesse conhecimento.

O filme é bastante importante e com certeza vai ganhar quem gosta de história e aqueles que apreciam o clima de suspense policial e investigações. Ele também critica de maneira sutil algumas políticas que já estavam sendo implementadas pelo Estado de Israel contra os árabes, abordando a intolerância contra este povo por parte dos agentes do Mossad. Com direção de Chris Weitz e roteiro de Matthew Orton, não há como negar que produções cinematográficas que contem a história do genocídio judeu possuem importância em construir laços de memória, contando a história como ela aconteceu, auxiliando a cada um de nós a parar para pensar e agir politicamente para evitar que novos genocídios contra esse e qualquer povo ocorram no mundo

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

Compartilhe:
como citar
Últimas publicações
Acompanhe nosso conteúdo
plugins premium WordPress