Uma nova fórmula para um tema já conhecido, Nada de Novo no Front escancara os horrores de uma guerra. Baseado no livro de Erich Maria Remarque, escrito em 1929, o longa, disponível na Netflix, concorre a diversos prêmios internacionais.
Mais do que bem executado, o filme nos leva a questionar os horrores e a condição humana em períodos de guerra. Ambientado na Primeira Guerra Mundial, Nada de Novo no Front acompanha a jornada do jovem soldado alemão Paul Bäumer (Feliz Kammerer). Com um ritmo lento e pesado, o filme nos faz questionar as narrativas para uma guerra e as suas consequências.
Numa guerra de trincheiras, as baixas são recorrentes – lembramos que em torno de 10 milhões de soldados foram mortos na Primeira Guerra Mundial, além de mais de 13 milhões de civis. No ano que teve início a Guerra da Ucrânia, relembrar os horrores de uma guerra nos faz questionar as suas dualidades, incongruências, a sua estupidez e as suas consequências.
O filme é, sem dúvida, forte. As cenas são devastadoras e a sonografia faz com que o telespectador seja imerso na narrativa do filme. É também um filme longo, mas que, obviamente, não é sinônimo de tedioso.
Desde o lançamento do livro até esta última adaptação, a história de Nada de Novo no Front é uma afronta às ideias e ideais militaristas, ainda altamente presentes em nossa história. A produção é antiga, mas, ao mesmo tempo, atual.
Dirigido por Edward Berger, o filme conta a história de um grupo de amigos que decidem, norteados pelo nacionalismo, se alistar para ir à guerra. Não são necessários 20 minutos de filme para que o entusiasmo inicial dos personagens se torne um verdadeiro pesadelo. Frio, fome, sangue, armas impõem a dura realidade de uma guerra aos jovens alemães.
Passado na frente ocidental, que pouco avançou durante a guerra, o filme mostra o horror da perda e o trauma da desesperança. Muitas vezes, quem assiste, será pego por um sentimento de angústia ocasionado pelas cenas do filme.
Com certeza a fotografia – algo que é mais característico aos filmes europeus do que aos norte-americanos – é um ponto diferencial de um filme que trata de um tema de certa forma até batido. Mas, em pequenos pontos – seja pela natureza antibelicista ou por ritmo menos dinâmico ou até mesmo pela própria fotografia – Nada de Novo no Front consegue inovar.
Há também uma crítica referente àqueles que comandam a guerra sem se colocar no front. O personagem de Devid Striesow, General Friedrichs, é extremamente caricaturado. Mas o jogo de cenas em que aparecem os soldados em profundo sofrimento emocional, físico e psíquico e o General em sua mesa bem-posta, com comidas frescas, num palacete, expressa claramente a contraposição. Isto é, aqueles privilegiados pela hierarquia militar – generais – mandam e desmandam na vida daqueles que arriscam sua vida e saúde em uma guerra sanguinária. Como já diria o ditado popular: “quem faz a guerra não vai para a guerra”.
O filme concorre ao Oscar nas categorias de: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado (Edward Berger, Lesley Paterson & Ian Stokell), Melhor Trilha Sonora (Volker Bertelmann), Melhor Design de Produção, Melhor Som, Melhor Filme Internacional (representando a Alemanha), Melhor Cabelo & Maquiagem, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Fotografia (James Friend). Em tempos de guerra na Europa e de discursos belicistas, vale a pena ser visto.