Realizar uma cinebiografia nem sempre é uma tarefa fácil. Equilibrar o legado e trazer veracidade à obra são grandes desafios encontrados por roteiristas e diretores da indústria cinematográfica.
Maestro, o novo filme do diretor Bradley Cooper, falha ao não falar tanto do impacto cultural de Leonard Bernstein, mas encanta ao mostrar um outro lado do imortal maestro. Confira A Resenha da Fundação Podemos.
Leonard Bernstein é interpretado por Bradley Cooper, que, através da capacidade técnica da maquiagem, fica praticamente irreconhecível. Nas primeiras cenas, é quase impossível perceber que se trata do galã de “Se Beber, Não Case” (2009). Cooper teve a sua primeira experiência como diretor no filme “Nasce uma Estrela” (2018). Mesmo com pouca rodagem, já consegue mostrar-se bastante maduro.
As cenas iniciais nos mostram que, apesar de ser um filme sobre o maior maestro estadunidense, a temática se centrará no casal: Leonard (Bradley Cooper) e Felicia Montealegre (Carey Mulligan). Há uma interessante estratégia utilizada pelo diretor em combinar as cenas em preto e branco, no início do relacionamento do casal, e cenas com alta saturação, já retratando o casal mais velho.
O filme surpreende em mostrar as dualidades de Bernstein: um homem extrovertido, mas, de certa forma, melancólico; que mantém um relacionamento com uma mulher que ama, mas que também se aventura com jovens intelectuais. O ritmo do filme é terno, assim como toda a sua construção narrativa.
Bradley Cooper consegue nos trazer um Bernstein bastante carismático, elegante e charmoso. Já Carey Mulligan dá vida à Montealegre mostrando a sua capacidade de acolher e entender o maestro, mas mostrando também as dores de viver em uma relação que recorrentemente o parceiro se envolve com outras pessoas. Aliás, essa parece ser uma das dualidades de Bernstein: um homem completamente apaixonado por sua esposa, mas que precisava manter relações homoafetivas para se sentir completo.
O longa possui um pouco mais de duas horas e contou com uma participação ativa dos três filhos do casal. Cooper também afirma ter estudado mais de seis anos para fazer as cenas de regência de orquestra. Era a grande esperança para garantir o primeiro Oscar de Cooper, visto que o filme foi indicado à sete categorias. Mesmo sendo indicado à Melhor Roteiro e Melhor Cabelo e Maquiagem, o filme é bastante criticado nesses dois quesitos. No primeiro caso, a crítica ressalta o exacerbado foco na vida amorosa de Bernstein, no que seria um roteiro “arrastado”, que “não se sustenta”. Entretanto, como falamos, desde o início sabemos que o filme terá como pauta central a vida do casal.
No segundo caso, a crítica da maquiagem é por uma acusação de antissemitismo ao Cooper, por utilizar uma prótese de nariz. O diretor e ator principal sofreu críticas por “criar estereótipos da comunidade judaica”. Os três filhos de Bernstein se pronunciaram acerca disso e afirmaram que “estavam em paz com isso”.
Por fim, o filme acabou por não levar nenhuma estatueta para casa. Afinal, havia grandes candidatos, como Oppenheimer, que levou o Melhor Filme e outras séries de prêmios, e Pobres Criaturas, que ganhou a estatueta de Melhor Cabelo e Maquiagem, entre outras categorias.
A sensibilidade do filme é o que conquista o espectador. Seu ritmo mais lento, típico de um romance, é acalorado com debates e sentimentos profundos de Bernstein. Com certeza, o reconhecimento do casting é o ponto forte do filme.