A maior tragédia esquecida do Brasil
O Holocausto Brasileiro, documentário lançado em 2016, chegou à Netflix em fevereiro deste ano. Em menos de uma semana, passou a figurar como um dos conteúdos mais acessados da plataforma de streaming.
Com cenas da época, o longa conta a história de uma das maiores tragédias do Brasil. A Fundação Podemos preparou uma A Resenha especial para você. Venha conferir!
O documentário conta com depoimentos de sobreviventes e trabalhadores do Hospital Colônia, em Barbacena (MG). Um local pacato e serrano, mas que testemunhou uma das maiores tragédias brasileiras: 60 mil mortes por negligência e crueldade extrema. O documentário é extremamente poderoso ao se apoiar na história oral para recontar os acontecimentos daquele local. Além disso, são utilizadas fotos e retratos tirados por jornalistas na época, que retratam as pessoas que lá eram depositadas.
O Hospital Psiquiátrico de Barbacena, ou o Hospital Colônia, funcionou, entre 1930 e 1980, com traços de campo de concentração. As pessoas marginalizadas e estigmatizadas na sociedade eram mandadas para lá, mas não recebiam tratamento adequado — muitas vezes nem distúrbios psiquiátricos possuíam — e ali ficavam à própria sorte. Traçando um perfil daqueles que frequentaram e foram depositados no local, temos: homossexuais, prostitutas, mães solteiras, mulheres que perderam a virgindade antes do casamento, vítimas de abuso e pessoas com deficiência ou vítimas de abandono infantil.
O Hospital Colônia era um local com situações absurdamente desumanas: pessoas defecavam no chão, eram obrigadas a andarem nuas, alimentavam-se muito pouco, eram submetidas a tratamentos ineficazes, sofriam com tortura, tinham seus corpos — depois da morte — vendidos para universidades, entre outros tratos degradantes. Os detentos, como podemos chamá-los, eram enviados à cidade serrana de Minas Gerais para morrer. Muitos, inclusive, morreram de causas “simples”, como diarreia, desidratação ou frio.
Um momento fortíssimo do documentário são as entrevistas dos funcionários do Hospital Colônia, que possuem pouco autoconhecimento — ou crítica — de como contribuíram para este cenário como um todo. Estima-se que, durante o período de maior mortalidade, cerca de 16 detentos morriam por dia. Seus corpos, como mencionados, muitas vezes eram vendidos para universidades de medicina do país. Quando o mercado estava saturado, seus corpos eram dissolvidos em ácido, na frente dos outros detentos, para a reutilização do osso.
De fato, os tempos eram outros. Mas o Hospital de Barbacena ficou conhecido como um marco da luta antimanicomial. Iniciativas, como a criação do Museu da Loucura ou até mesmo deste documentário, buscam conscientizar as pessoas acerca desta história mórbida e desumana que aconteceu no Brasil. É a tentativa de não deixar esquecer para também não se repetir. A luta antimanicomial no Brasil é extremamente importante, para que as pessoas estejam inseridas no convívio social durante seu tratamento.
A Fundação Podemos já discutiu, aqui, a institucionalização também de pessoas com deficiência, bem como tem um curso exclusivo e gratuito sobre “Valorização da Vida e o Setembro Amarelo”. Não deixe de conferir esses conteúdos.