Um dos álbuns mais icônicos do Brasil agora apresentado através de lentes.
Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você é um documentário de 1h40 que conta os bastidores da gravação do álbum de mesmo nome, lançado em 1974 e gravado em Los Angeles (EUA), por Elis Regina e Tom Jobim, dois gênios da música brasileira.
A Fundação Podemos foi acompanhar o longa-metragem no cinema e traz uma análise fresquinha para você. Confira!
Há tempos a indústria cinematográfica começou a explorar o mundo da música. Não apenas como apoio para a produção, como era mais comum no passado, mas agora as músicas e os artistas são o objeto da obra. Podemos falar, inclusive, de um surgimento do subgênero de documentários cinematográficos focados na cultura musical.
“Elis e Tom” é um retratado terno, aproveitando-se desse subgênero. O documentário se inicia com a exibição da canção “Águas de Março”, na versão interpretada por Elis e Tom Jobim. A união, improvável e certeira, rendeu um dos vídeos mais clássicos da história da música brasileira e uma das mais famosas versões da canção.
O documentário faz questão de mostrar quem era Tom Jobim e Elis Regina, parte desnecessária para aqueles que gostam e acompanham a história da música brasileira. Mas não é uma parte descartável da obra, visto que é através desta visão dos artistas que podemos entender como um álbum que tinha tudo para não acontecer, aconteceu.
Elis, a mulher que tinha conquistado o Brasil com suas performances e potência vocal. Tom, o rei e basicamente criador da Bossa Nova. Mas a relação de ambos era típica daqueles que possuem uma personalidade forte: cheia de potencial, mas com grandes altos e baixos.
A produção se diferencia de outras principalmente pela gama de pessoas entrevistadas. Gosto de analisar como um documentário de história oral: um marco da história da música brasileira contada oralmente por todos aqueles envolvidos na produção do álbum, com exceção de Elis e Tom.
Outro ponto forte da produção é exatamente a restauração das imagens em 4k. As imagens foram bem recuperadas e possuem relação com o que está sendo falado pelos entrevistados. Ou seja, contribui fortemente para a construção da narrativa. Mas queríamos mais de Elis e Tom.
O documentário tem escolhas insensíveis, como colocar a imagem de Elis no caixão quando menciona a morte da cantora. Mas, tirando isso, é uma grande experiência. É impossível não se levantar da cadeira do cinema completamente apaixonado por Elis e encantado com Tom.
Tom era do tipo boêmio, que possuía uma maestria na composição, mas tinha medo de que Elis e seu modo de interpretar músicas se distanciasse fortemente da Bossa Nova. Já Elis buscava refazer a sua imagem depois de ter cantado nas Olimpíadas do Exército, organizada pelos ditadores em 1972. A história não tardou a perdoar a Pimentinha, como era conhecida Elis à época, apelido conferido por Vinícius de Moraes. Sua icônica versão de “O Bêbado e o Equilibrista”, hino da anistia, ganhou força em todos os círculos nacionais.
Essa junção era perfeita, mas ao mesmo tempo improvável. As cenas dos documentários mostram uma dificuldade grande na convivência de ambos e uma resistência de atitude de um para com o outro. Mas, no final, tivemos a mais belíssima produção de Elis e Tom lançada em 1974.
Com 1h40 de duração, o documentário tem tudo para figurar entre um dos mais importantes e icônicos da produção brasileira. Aliás, a história facilita muito para que a própria história seja contada: quem não há de amar Elis e Tom juntos novamente?