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A Resenha: DOM

A Resenha: DOM

Criada por Breno Silveira, Dom é uma série brasileira, dividida em três temporadas, que aborda a vida de Pedro Machado Lomba Neto, mais conhecido como Pedro Dom, um jovem de classe média alta do Rio de Janeiro que se afundou no vício em cocaína e se tornou um dos assaltantes mais famosos e temidos da cidade entre a segunda metade da década de 1990 e o início da primeira do novo milênio. Pedro, que ficou conhecido por Dom, era um menino com todos os acessos que um jovem da classe média carioca poderia ter. Frequentou boas escolas, morava numa boa residência e tinha tudo para seguir uma vida tranquila e sem maiores desatinos, até que sua trajetória resolveu encontrar o vício, que o levaria a morrer com apenas 23 anos de idade.

A cocaína destruiu a vida de Pedro Dom e das pessoas que o amavam. Dom começou a furtar os próprios pais para poder continuar a sustentar seu vício e daí em diante foi uma verdadeira escalada. Pedro, que além de garoto de classe média, era um rapaz bonito, loiro de olhos azuis, e por isso foi apelidado de o bandido gato pela imprensa carioca, acabou se envolvendo e comandando assaltos a residências de alto padrão no Rio de Janeiro, até que finalmente foi preso e, justamente na prisão, acabou absorvido pelas facções que dominavam e até hoje controlam o tráfico de drogas. Uma vez na lógica das facções, para sempre nelas.

Pedro é vivido pelo impressionante Gabriel Leone, jovem ator que demonstra uma qualidade interpretativa muito fora do comum. A intensidade de sua atuação é um dos pontos altos da série, que estreou no ano de 2021 e terminou agora em 2024. Flávio Tolezani, com atuação também surpreendente, vive Victor Dantas, o pai de Pedro Dom. A série é uma adaptação do romance de Tony Belloto sobre a vida de Pedro Machado Lomba Neto, publicado pela Companhia das Letras no ano de 2000 e intitulado de Dom. Nesse sentido, o roteiro adaptado por Breno Silveira não foi isento de críticas pelos familiares de Pedro, principalmente pela mãe dele, que na série é vivida pela atriz e cantora baiana Laila Garin.

As polêmicas acerca da série fundamentaram-se principalmente na visão que foi dada da história sob a perspectiva do pai de Pedro. Victor Dantas é o personagem que representa Luiz Victor Dantas Lomba, um ex-policial civil, que foi expulso da corporação por desonra e participou de um esquadrão da morte durante o regime ditatorial militar. A história de Victor é contada em paralelo à vida de Pedro Dom. A sua ex-esposa e mãe de Pedro afirmou que, em relação a Victor, a série foi muito mais benevolente do que a realidade, pois ela retrata o pai de Pedro como alguém obstinado a salvar o filho do vício e da própria morte. Mas, de acordo com a mãe de Pedro, na história real foi ela quem tentou por inúmeras vezes internar o filho em clínicas de reabilitação e salvá-lo do vício, não o pai. Aliás, a mãe do Pedro real também afirmou que o pai era, na realidade, violento e também viciado em cocaína. De qualquer maneira, mesmo diante das críticas severas que a mãe de Pedro fez à obra, Breno Silveira não escondeu em nenhum momento de que se tratava de uma adaptação ficcional, baseada nos fatos reais. Contudo, é necessário compreender que se trata de um tema realmente complexo, pois ao passo que a obra se finca numa leitura romanceada da história real, ela desperta sentimentos e memórias dolorosas para aqueles que a viveram e carregam consigo as dores e feridas de tudo que passaram. Inclusive, o filho que Pedro deixou, hoje diz ter problemas por conta da repercussão que a série teve ao retomar a figura de seu pai.

Apesar disso tudo, Dom é uma série que aborda as tragédias que aterrorizam não só inúmeros pais e mães do mundo, que perdem seus filhos diariamente para o vício nas drogas ou são vítimas do crime organizado, mas também as de uma cidade que se encontra profundamente dividida entre uma habitada por pessoas que tentam se proteger da violência e de outra que vive imersa e a mercê das facções, milícias e de uma parte corrompida da polícia, que governam os morros do Rio de Janeiro. Assim, a história de Dom é, de certa forma, um drama universal, capaz de tomar terreno em qualquer lugar do planeta onde haja algum vício, em qualquer tipo de droga, lícita ou ilícita, que destrua a vida de uma pessoa.

Aliás, Dom também nos auxilia a pensar sobre o quanto uma cidade pode ser absorvida por políticas ineficientes de combate ao crime e às drogas. A realidade abordada em meados de 2000 parece não ter se alterado para a dos dias atuais, onde ainda presenciamos um Rio de Janeiro que luta contra e convive com a corrupção, o crime organizado controlando os morros e uma violência digna de guerra civil. Aliás, nesse sentido, embora a história oficial relate que o fim de Dom se deu graças ao trabalho de inteligência da polícia, a história de Breno Silveira e Tony Belloto sugere outra coisa.

Enfim, Dom é uma série que vale a pena ser vista. Seu sucesso internacional confirma a importância dessa obra, que merece ser compreendida não somente sob o aspecto do drama familiar universal, mas também da tragédia da cidade maravilhosa, cada vez mais ambígua, que desperta fascínio e medo, por ser capaz de reunir em poucos metros quadrados uma beleza natural inigualável a granadas e fuzis nas Rocinhas e Vidigais, enquanto turistas e banhistas visitam Ipanema, Leblon e Copacabana e um Cristo Redentor permanece calado e eternamente assombrado do alto do Corcovado.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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