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A Resenha: Cartola

A Resenha: Cartola

Sempre que pensamos em produções musicais, tratamos elas a partir de um aspecto que enfoque a sua individualidade, mas também por um prisma coletivo. Ou seja, mesmo tendo sido produzidas em épocas parecidas, elas mostram uma capacidade multifacetada do autor. E hoje vamos falar de algumas produções musicais de Cartola, um dos maiores sambistas brasileiros.

Entre 1974 e 1982, Cartola lançou quatro álbuns musicais: “Cartola” (1974); “Cartola II” (1976); “Verde Que Te Quero Rosa” (1977); e “Cartola 70 Anos” (1979). O autor, dono da famosíssima canção “As Rosas Não Falam”, teve uma relação descontínua com a sua carreira musical.

História de Cartola

Agenor de Oliveira nasceu em 1908 no Catete, Rio de Janeiro. Sua família sempre fez parte das festas do Dia dos Reis, mas foi somente quando o cantor se mudou para o Morro da Mangueira que passou a frequentar a vida boêmia, tocando violão e cavaquinho. Seu apelido veio do tempo que trabalhava como pedreiro e utilizava um chapéu-coco. Assim nasceu “Cartola”.

Passou parte da vida nas ruas, depois da morte de sua mãe, Ada Gomes. Morou num barraco ao lado da morada de mesma natureza de Deolinda da Conceição, de quem se enamorou e tornou-se sua companheira anos mais tarde. Deolinda, aliás, se mudou para a casa de Cartola levando sua filha, que foi criada como filha do músico.

Cartola faleceu de câncer em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos. Seu corpo foi velado na Estação Primeira da Mangueira, com diversos artistas de renome comparecendo à cerimônia.

Carreira Musical

Era em seu barraco com Deolinda, no qual moravam também outras pessoas, que Noel Rosa de tempos em tempos buscava refúgio. Em parceria com Carlos Cachaça e Gadim, Cartola fazia parte de um grupo de arruaceiros, que fez surgir seu primeiro bloco carnavalesco, um embrião da Estação Primeira de Mangueira.

Inicialmente, a carreira musical de Cartola era vender sambas, sobretudo para Mário Reis e Francisco Alves. Agenor, como assinava as músicas, sempre conservou a autoria, cedendo apenas os direitos de venda.

Contudo, foi na década de 1940 que Cartola integrou um grupo de sambistas, a convite do referenciado maestro Heitor Villa-Lobos. O projeto estava dentro de gravações orientadas pelo maestro estadunidense Leopold Stokowski.

Todavia, Cartola se tornou um sambista popular ainda em vida, cantando nas rádios, para além da boêmia. Nos anos seguintes, passou por momentos difíceis. Contraiu meningite, chegando a ficar em coma por três dias, mudou-se para Nilópolis, perdeu a esposa Deolinda em razão de um ataque cardíaco e deixou a Mangueira.

Durante uns sete anos, Cartola se ausentou do cenário musical e se afastou de conhecidos. Foi a paixão por Eusébia Silva do Nascimento que fez Cartola superar os tempos difíceis. Quando se conheceram, Cartola bebia todos os dias, estava magro e seu sorriso desfigurado. Zica, como era conhecida Eusébia, se apaixonou pelo sambista e, juntos, voltaram para o bairro da Mangueira. A partir desse novo romance, foi num encontro com o jornalista Sérgio Porto que Cartola retomou à cena musical.

Junto com Zica, criou o “Zicartola”, um espaço de música popular brasileira que servia comida. O local inaugurou um gênero de casa noturna, que se propagou rapidamente pelo Rio de Janeiro, mesmo tendo fechado as portas dois anos após a inauguração.

Cartola e a Mangueira

A história de Cartola e da Estação Primeira da Mangueira, uma das mais referenciadas escolas de samba do Rio de Janeiro, se confundem. Tudo começou quando, com Carlos Cachaça, criou o bloco de carnaval “Bloco dos Arengueiros”. Ampliando o bloco, em 1928, surgiu “Estação Primeira”. Cartola teve participação ativa escolhendo as cores e os nomes do que viria a se tornar “Estação Primeira da Mangueira”. “Estação Primeira” faz alusão à primeira parada de trem que saia da estação Dom Pedro para o subúrbio do Rio, em direção à Mangueira.

Cartola e o Samba

A história do samba e a manutenção do gênero musical como algo popular é extremamente interessante. Muitas críticas durante o século XX se pautaram na elitização do samba. Cartola, com seu estilo boêmio, contribuiu para que o samba se mantivesse verdadeiramente popular.

Não podemos esquecer, entretanto, que o samba foi por muito tempo criminalizado. No início dos anos 1990, o samba foi enquadrado na “Lei da Vadiagem”. Ainda hoje, existe na Lei de Contravenções Penais a contravenção acerca da vadiagem, utilizada, sobretudo, para prender desviantes.

Não apenas isso, onde vivia, na Mangueira, Cartola foi vítima de uma esbofeteada no rosto numa ação da polícia militar durante a ditadura. O episódio remonta a prisões injustas e não explicadas do povo da Mangueira, inclusive do filho de Cartola, Ronaldo Silva de Oliveira, que era funcionário público. O episódio também demonstra o senso de comunidade da Mangueira, pois quando Cartola descia o morro em busca de seu filho, os moradores entoavam a música “Meninos da Mangueira” (Sérgio Cabral e Rildo Hora), uma homenagem à Zica e ao Cartola.

Além disso, foi Cartola que criou o que chamamos de “Comissão de Frente” nos desfiles de samba. Com o intuito de evitar ser enquadrado na Lei da Vadiagem, Cartola vestiu um terno com gravata e foi para a avenida. Desde então, todos os anos vemos a comissão de frente passar na avenida.

Reconhecimento atual

A vida de Cartola e sua importância para uma das maiores expressões culturais brasileiras foi reconhecida recentemente por uma instituição muito importante de ensino: a Unicamp. Isso porque a universidade passou a cobrar uma seleção de suas músicas em seu vestibular: “Alvorada”, “As Rosas Não Falam”, “Cordas de Aço”, “Disfarça e Chora”, “O inverno do meu tempo”, “O mundo é um moinho”, “Que é feito de você?”, “Sala de recepção”, “Silêncio de uma Cipreste”, e “Sim”.

Não se esqueça de ouvir às músicas, relacionar com o contexto de vida de Cartola e ler as letras para realizar uma boa interpretação na prova!

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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