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A Resenha: Asteroid City

A Resenha: Asteroid City

Asteroid City (2023) é um dos mais recentes longas do excêntrico e notável diretor norte americano Wes Anderson, já conhecido pelos seus bem recebidos filmes, tanto pelo público, quanto pela crítica, Grande Hotel Budapeste (2014), A incrível história de Henry Sugar (2023), A Crônica Francesa (2021) e Os excêntricos Tenembaums (2001).

Com um elenco surpreendente e de peso, Asteroid City é um filme difícil de se definir. Ou seja, não é totalmente um drama, tampouco uma comédia, muito menos um filme de ação. Talvez o melhor termo para definir a história que Wes Anderson nos conta seja mesmo tragicomédia. Todavia, se é um filme difícil de se definir, também o é de se ver. Não no sentido de que o filme é ruim ou qualquer coisa nessa direção, mas sim em tentar conceber o que ali está sendo dito, do que se trata e, afinal, do que estamos diante.

De qualquer maneira, se a proposta do filme confunde, também impressiona. Aliás, é notável o fato de o longa contar com um elenco extremamente pesado e respeitado. Isto é, Asteroid City conta com nada mais, nada menos do que Tom Hanks, Scarlett Johansson, Adrien Brody, Edward Norton, Jason Schwartzman, Bryan Cranston, Tilda Swinton, Matt Dillon, Steve Carell, Liev Schreiber, Jeff Goldblum, William Dafoe e até uma pontinha do cantor brasileiro Seu Jorge. Se alguém não conhece algum desses nomes, basta jogá-los no google e verificar a foto que aparecerá. Certamente esse alguém dirá: nossa, é ela; nossa, é ele!

Wes Anderson parece ser um cineasta como Quentin Tarantino, pois tem sua marca registrada em todos os filmes que produz. Ou seja, uma paleta de cores exuberante, diálogos rápidos, cortantes e muitas vezes difíceis de acompanhar, histórias que se cruzam ou passam concomitantemente com enorme velocidade diante dos olhos dos telespectadores, e um amor ao teatro, que transborda na composição de seus personagens e das suas narrativas. É evidente que todo diretor que cria uma marca registrada acaba também sendo acusado de ser sempre igual ou ficar preso a uma fórmula. Assim como Tarantino, Woody Allen também já recebeu essa mesma crítica. De qualquer maneira, diretores que criam essa marca sempre acabam por dividir o público entre aqueles que adoram seus filmes e os que simplesmente não suportam.

Independentemente disso tudo, Asteroid City se passa numa minúscula cidade no deserto americano durante os anos 1950, mais precisamente por volta de 1955. Nessa pequenina cidade de pouco mais de oitenta habitantes, jovens estudantes, extremamente inteligentes e voltados para a física e a astronomia, se encontram para participar de um evento patrocinado pelo governo dos Estados Unidos. A cidade tem o nome de Asteroid, porque há muito tempo um meteoro caiu na região onde ela se ergueu. Uma enorme cratera se abriu na região e um meteorito lá ficou.

Durante a reunião dos jovens cientistas, um fato extraordinário acontece. Algo inimaginável e completamente inusitado. Tal fato acaba deixando todos que estavam hospedados em Asteroid City em quarentena, não podendo sair da pequena cidade por ordem do governo norte americano. Daí em diante, o insólito desenrolar da história abre uma série de possibilidades interpretativas. Não há dúvida de que existe uma referência ao que vivemos na pandemia e as confusões e mentiras contadas por governos completamente desorientados em como agir, mas preocupados em esconder.

Além disso, as histórias que são contadas em paralelo envolvem temas profundos como o luto, o desejo de ser amado e notado, o despertar da adolescência, a inocência infantil, num pano de fundo marcado pelas neuroses da guerra fria e da bomba atômica. Nesse sentido, não seria impossível de se imaginar que o filme é uma composição do imaginário de um diretor que nasceu em 1969, justamente no ano que o homem colocou seu pé na lua e se forjou no momento em que algumas questões existenciais passaram a ser levantadas diante do feito, desde toda a excitação por ele gerada, até a própria solidão da jornada humana na Terra, sem resposta alguma sobre si mesma. Aliás, seriam sonhos ou pesadelos em Technicolor, em tons amarelos, típicos dos faroestes americanos dos anos 1950, envoltos em referências sentimentais?

Por fim, Asteroid City é um convite enigmático que vale a pena ser visto. Talvez muitos telespectadores acharão o filme chato e sem sentido, enquanto outros buscarão o sentido da história e do que ela realmente se trata. Aliás, ao ser perguntado do que se trata a peça de teatro denominada Asteroid City, uma vez que toda narrativa é apresentada como uma história encenada no teatro, um dos personagens responde: trata-se do “infinito”. O que seria esse infinito? Como o próprio filme sugere, “não se pode acordar, sem antes adormecer”.

 

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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