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A Resenha: Aftersun
Resenha do Filme AfterSun

A Resenha: Aftersun

Decidimos fazer a resenha de uma obra que aborda a visão de uma filha sobre a sua relação com o seu pai. E não, não estamos falando do filme “A Baleia” (2022), que foi, inclusive, aclamado e vencedor do Oscar. Muito diferente de “A Baleia”, Aftersun possui a mesma temática, mas é nas sutilezas que a história acontece diferentemente.

É verdade que a relação de pais e filhos está longe de ser estática. Filhos crescem, amadurecem e já não precisam mais do colo dos pais (pelo menos, fisicamente). Estes, por outro lado, geralmente envelhecem – as vezes nem dá tempo – e morrem. A relação é marcada por perdas e mutações, sejam elas materiais, simbólicas ou mesmo relacionais.

Aftersun é uma espécie de filme-sentimento. Dirigido pela jovem escocesa Charlotte Wells, o filme conta a história da viagem de Calum (Paul Mescal) e a sua filha pré-adolescente Sophie (Frankie Corio). Eles viajam juntos nas férias de verão para a Turquia, hospedando-se em um hotel com piscina, bar e restaurante, mesmo o pai não tendo condições financeiras de pagar por todo o pacote.

Ambientado na década de 1990, a relação de Calum com Sophie é linda e divertida. Mas, se olharmos atentamente, perceberemos a profundidade do filme. Com serenidade, podemos captar, ao longo da trama, as angústias que permeiam os protagonistas: ambos estão em processo de mutação decorrente do envelhecimento.

Sophie está saindo da fase criança e entrando na adolescência. Tem interesse em brincar, mas um fascínio por adolescentes e jovens adultos; o que é típico dessa época. Já Calum tem 31 anos, e é confundido como irmão mais velho de Sophie, ao mesmo tempo que passa por um processo de amadurecimento e senso de responsabilidade.

Durante o longa, uma cena nos intriga: os frames de Sophie na fase adulta (Celia Rowlson-Hall) em uma balada. A cena é pouco nítida, pois tem um jogo de luz que interrompe os movimentos, não trazendo muito senso. Entretanto, é nesse mesmo estilo que se passa a cena mais poderosa, triste e acalentadora do filme.

Calum é o típico paizão, faz aquilo que a filha quer, com um sorriso no rosto. Mas, ao longo do filme, vemos a sua outra faceta: a tristeza, a melancolia, o desespero e a desesperança. Sophie, tem contato com alguns desses momentos, mas não fica claro ao telespectador se ela realmente os compreendeu.

Na verdade, de um jeito que nos lembra o romance de Machado de Assis, entre Bentinho e Capitu, o filme é reconstruído a partir de filmagens da viagem, mas as lacunas são preenchidas a partir da imaginação, dos fatos e da memória, que, como sabemos, nem sempre são confiáveis. A imersão nas cenas é extremamente cativante e a fotografia de Gregory Oke complementa toda a produção artística.

Se o filme parece pacato, sem nada de acontecimento importante ou um plot impactante, é chegando ao final que entendemos o que está acontecendo. E deixo, a você leitor, entender e chegar à conclusão sozinho, enquanto ouve a versão de Under Pressure (Queen-Bowie), que toca no longa.

Recomendamos, também, deixar um lencinho bem próximo de si enquanto assiste o filme, porque as lágrimas rolam (e vão rolar) com facilidade. O mais bonito é que o filme se conecta profundamente com nosso sentimento, sem apelações, cenas explícitas; apenas nos ligando às angústias e às alegrias de cada um dos personagens.

Com certeza Aftersun é um filme valoroso. Vale a pena enfrentar o ritmo lento da trama para sentir um boom de emoção ao final. Ressignificar sentimentos é parte da vida, lembrar do passado, também.

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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