Se você se interessa por história, ou por cinema argentino, a Fundação Podemos fez uma Resenha para você!
A História Oficial. O filme foi lançado em 1985, apenas dois anos após o fim da ditadura militar da Argentina e realiza uma denúncia: o roubo de bebês durante os anos ditatoriais.
No momento de seu lançamento a Argentina ainda estava realizando sua transição democrática. Nesse período de forte instabilidade política o país havia iniciado o julgamento de militares que perpetraram crimes durante os anos ditatoriais. É neste contexto que A História Oficial, uma ficção, se passa.
O filme é reconhecido internacionalmente, o que garantiu o primeiro Oscar dos hermanos. O diretor Luis Puenzo foi extremamente audacioso, colocando de que forma os militares estavam alinhados no roubo de bebês durante o período militar. O que acontecia é que filhos de militantes de esquerda que nasciam nos centros de detenção eram roubados e colocados para adoção para pessoas partidárias do regime. Na concepção dos militares, este plano buscava erradicar o pensamento de esquerda da sociedade argentina. Assim, a criação das crianças seria condizente com os valores que os militares tentavam impor à sociedade.
O longa acompanha o despertar da professora alienada Alícia (Norma Aleandro), que busca descobrir a origem de sua filha adotiva. É no início do filme, em uma conversa com sua amiga Anna (Chunchuna Villafañe), que Alícia começa a ter consciência do que foi o período ditatorial. Anna é uma exilada que retornou recentemente ao país e passa a contar sobre as perseguições dos militares. Além disso, Alícia tem contato com manifestações das Avós da Praça de Maio, que, até os dias hoje, buscam os bebês perdidos durante a ditadura.
As Avós da Praça de Maio são mães de pessoas detidas que, no momento da detenção, estavam grávidas. Sem saber o paradeiro das filhas, buscam os seus netos. Em 2023, elas encontraram o 133º neto que teve a identidade roubada pelos militares. Ainda hoje, existe um programa genético para traçar pessoas que suspeitam que foram roubadas durante o período militar e tiveram a sua identidade roubada.
A grande aliada de Alícia para descobrir a origem de sua filha Gaby é Anna. Seu marido, Roberto (Héctor Alterio) não auxilia a protagonista a qualquer momento e deixa sua posição favorável ao regime bastante clara. Trata-se de um funcionário da corporação que enriqueceu durante os anos ditatoriais.
O final, entretanto, é inconclusivo. Talvez, essa seja uma maneira de retratar a própria realidade. Há diversas pessoas na Argentina que suspeitaram durante anos que tiveram a sua identidade roubada, mas não conseguiram identificar a sua verdadeira origem.
As Mães e Avós da Praça de Maio são um grupo de ativistas ainda bastante ativas e sua atuação é transnacional. Por exemplo, elas notaram que não havia base legal para o julgamento de militares acerca do roubo de bebês. Com a associação como Ministério do Interior, a Argentina propôs um artigo na Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças, inserindo o direito à identidade das crianças. Uma vez que o país se tornou signatário, a Convenção tomou status constitucional, o que, em movimento cascata, desencadeou no julgamento da Causa Videla, levando o ex-presidente militar à prisão.
Assim, a História Oficial é um filme belíssimo, reconhecido internacionalmente e que possui a uma audácia histórica. É um longa que traz conhecimento histórico, mas também mexe com as emoções numa temática bastante interessante.