Dentro da longa e brilhante carreira de Jack Nicholson, repleta de filmes marcantes e inesquecíveis, tais como Batman de 1989, Um estranho no Ninho, Os Infiltrados, Melhor é Impossível, o Iluminado, dentre tantos outros, talvez A Promessa seja um dos menos notados e lembrados. Dirigido pelo vencedor do Oscar Sean Penn (Entre Meninos e Lobos e Milk) e com um elenco de grandes atores e atrizes, o longa de 2001 é um daqueles filme que poucos viram, mas que vale muito a experiência, não somente pela presença de Nicholson, mas também pela complexa, tensa e dramática história.
Sean Penn e o casal Jerzy e Mary Olson-Kromolowsky, que assinam o roteiro, criaram um drama policial ambíguo, perturbador e angustiante sobre um policial respeitado, querido, que em seu último dia de trabalho no estado de Nevada resolve investigar um crime brutal: o estupro e o assassinato de uma menina de apenas sete anos de idade. Jerry Black é interpretado magistralmente por Jack Nicholson, que simplesmente dispensa qualquer tipo de comentário. Vale ainda mencionar que a trilha sonora é do espetacular Hans Zimmer e ainda conta no elenco com rápidas, mas marcantes participações de Mickey Rourke (O Lutador) e Helen Mirrei (A Rainha).
Quando os colegas de Jerry encontram o corpo de uma pequena menina no meio do gelo, perdido nas montanhas, que misturam beleza e hostilidade ao mesmo tempo, algo chama a atenção do policial que desfruta de uma festa de despedida organizada por seus colegas. Mesmo sendo desaconselhado, Jerry decide deixar a própria festa para ir ao local do crime. Quando se depara com a cena pavorosa, Jerry se surpreende com o fato de que nenhum dos policiais locais foi capaz de avisar os pais da menina. Ao perguntar quem levaria a notícia trágica e perceber que ninguém teria coragem, Jerry decide, num ato de solidariedade e bravura, carregar o fardo. A notícia faz com que os pais da pobre menina desmoronem. Infeliz e desesperada com tamanha brutalidade feita contra sua pequena filha, a mãe da menina pede que Jerry prometa a ela que achará o culpado. Acuado e paralisado com a dor dos pais, o veterano policial faz a promessa de que fará tudo para pegar o assassino.
O corpo da menina havia sido encontrado por um garoto que estava passeando com seu trenó na neve. No momento em que ele avistou o corpo, viu sair correndo da cena um homem de origem indígena, assustado e atordoado, que logo pegou sua caminhonete e sumiu na estrada. O indígena era Toby Jay Wadenah, interpretado por Benício Del Toro (Traffic e Che, o argentino), um homem acometido por uma patologia mental e que contava com uma ficha policial já considerável, inclusive tendo sido anteriormente preso por estupro. Seria, portanto, sem a menor sombra de dúvida, o autor do crime. A polícia não demorou e logo o achou.
Como Jerry estava oficialmente fora de serviço, seu substituto, o detetive Stan Krolak, vivido pelo bom ator Aaron Eckhart (Batman: O Cavaleiro das Trevas), é quem decidiu fazer o interrogatório de Toby. De uma maneira que desagradou a Jerry, Stan praticamente arrancou a confissão de Toby, que parecia responder exatamente a tudo a que era estimulado. Contudo, ao confessar o crime, Toby acaba tomando uma atitude inesperada e drástica.
Mesmo diante da confissão de Toby, algo diz a Jerry que ele não era o culpado. Diante disso, ele decide investigar e descobre que realmente outros estupros semelhantes aconteceram envolvendo meninas na mesma faixa de idade. Descobre, inclusive, que um estupro seguido de homicídio contra uma menina numa localidade próxima ainda está em aberto. Jerry tenta, então, colher informações enquanto vai sendo pressionado pelos colegas a deixar tudo isso de lado e aceitar que o caso estava encerrado. Assim, de uma maneira bastante ambígua, ele vai tentando viver uma nova vida, ao passo que o crime cometido contra a pequena menininha e a sua promessa parecem nunca o abandonar.
Jerry se muda para um vilarejo com o objetivo de pescar e começar uma nova vida. Todavia, o lugar está dentro do raio que ele entende pertencer a uma espécie de padrão seguido pelo assassino. Nesse lugar ele conhece a garçonete Lori, interpretada por Robin Wright (House of Cards), com quem começa uma relação de amizade. Lori tem uma pequena filha, Chrissy, da mesma idade das vítimas do assassino que Jerry procura. Conforme a relação dos dois se intensifica, Jerry passa a cuidar da menina como se fosse um pai e Lori encontra nele a proteção e o carinho que não tinha, uma vez que sofria abuso e violência do seu ex-marido.
Quando Jerry parece ter superado e começado uma nova vida, o crime e a sua promessa voltam a atormentá-lo. Aliás aqui está um dos pontos altos do roteiro: nunca temos a certeza do que se passa na cabeça de Jerry. Não sabemos se tudo que ele faz é por conta de sua promessa ou se está obcecado de uma forma que começa a transitar entre a realidade e a loucura. Em relação a isso, a atuação de Jack Nicholson é realmente o que faz do filme melhor do que ele já poderia ser. Suas expressões conseguem nos transmitir a sua dúvida, a angústia e ansiedade que sente e que vai lhe consumindo por dentro.
A Promessa é, no final das contas, um ótimo filme. Ele prende do início ao fim e nos faz solidários a Jerry, pois passamos a vivenciar a sua angústia e a dúvida se no final ele conseguiu ou não cumprir a sua promessa. Essa pergunta, aliás, caberá a cada um de nós responder, mesmo que o destino de Jerry possa não nos agradar muito.
Guilherme Antonio de Almeida Lopes Fernandes
Pós-doutorando em Direito Internacional na USP. Doutor em Direito pela USP. Mestre em Integração da América Latina pela USP. Especialista em Ciências Penais pela UNISUL. Bacharel em Direito pela USP. Pesquisador, Professor e advogado em São Paulo.