Como ocorre a cada dois anos, o Brasil foi às urnas em 2024. O resultado obtido há poucos meses e que organizará as forças políticas municiais neste ano que se inicia revelou algumas tendências[1]. A primeira que chama atenção foi a enorme taxa de reeleição dos prefeitos. Nada memos do que 80% dos prefeitos que concorreram à reeleição foram reconduzidos ao cargo.
Se olharmos apenas as capitais, essa taxa cai para 61%. Ainda assim é expressivamente alta. Notamos também que o jogo, na maioria dos casos, foi resolvido já no primeiro turno. No pleito de outubro, apenas 102 municípios, do total de 5569 que foram às urnas, tiveram eleição em dois turnos.
Outra tendencia observada foi o expressivo aumento do campo da direita e centro-direita partidária. Nesse sentido, apenas os seis maiores partidos desse campo (Na ordem decrescente: PSD, PL, MDB, União Brasil, PP e Republicanos) governarão cerca de 4,7 mil prefeituras, cuja população somada atinge cerca de 154 milhões de brasileiros. Em contraste, os partidos do campo da esquerda (PT, PcdoB, Psol) e da centro-esquerda (PSB PDT e Rede) levaram algo em torno de 746 prefeituras. O contraste é gritante e pode ser geograficamente identificado a partir do mapa abaixo:
Fonte: https://redem.tec.br/analise-de-conjuntur/a-distribuicao-das-forcas-politicas-em-2024/
Diante desse quadro, é possível tirarmos algumas impressões preliminares: No que diz respeito à enorme taxa de reeleição, estudos indicam que as emendas parlamentares podem ter tido um importante papel, turbinando orçamentos municipais e influenciando positivamente na avaliação dos prefeitos, o que, evidentemente, não anula a importância da boa gestão. Por isso, o imbróglio jurídico com o STF acerca do funcionamento das emendas parlamentares é um elemento que deve ser observado.
Em segundo lugar, os resultados municiais de 2024 não devem ser olhados como uma fotografia, mas como um filme contínuo. Assim, o crescimento do campo da centro-direita não foi algo novo e inesperado, pois já vinha ocorrendo em pleitos anteriores. Esse resultado, no entanto, pouco nos diz sobre a tendencia presidencial de 2026, já que não há uma correlação forte entre o campo político vitorioso nas municipais e a eleição presidencial que virá dois anos depois. Em 2022 Lula foi eleito a despeito do crescimento do campo da centro-direita, e sobretudo da direita mais radical, que há havia ocorrido em 2020.
Se esse resultado pode sinalizar algo para 2026, será para a Câmara dos Deputados. Como todos sabem, partidos com grande número de prefeituras tendem a eleger mais deputados. Assim, um partido como o PODEMOS, que obteve um aumento de 30% de prefeituras e 60% de vereadores, possui perspectivas bastante positivas. Soma-se a essa perspectiva positiva o movimento de pulverização do campo da direita e da centro-direita, que frustrou as expectativas de um partido como o PL, que mesmo com seu 1 bilhão de fundo partidário, não obteve o resultado esperado. Algo semelhante ocorreu com o PSD de Kassab. Há aí um espaço a disputar.
Para obter um quadro mais completo precisamos olhar ainda para o Governo Federal. O atual governo Lula parece obter resultados ambíguos, sobretudo no campo econômico. Os recentes resultados relativamente positivos sobre o PIB e nível de emprego têm competido com ruídos produzidos na esfera das finanças, que, sempre preocupada com os resultados contábeis do setor público (com ou sem razão, aqui não importa), têm o poder de produzir subida na curva de juros futuros e desvalorizar o real perante o dólar, o que, por sua vez, gera inflação e pressiona o Banco Central para subir ainda mais a taxa de juros. Nesse movimento ambíguo, a popularidade do governo não tem se mantido em níveis confortáveis.
Como sabemos, o Congresso Nacional é um ator extremamente importante nessa equação, e esse jogo tem sido jogado com o Ministro Fernando Haddad. Votações sobre orçamento, desonerações e reforma tributária estão na ordem do dia e produzem efeitos diretos sobre todas as variáveis econômicas citadas acima. Se bem jogado, pode produzir um jogo de ganha-ganha, não só entre governo e oposição, mas também para o país.
Para quem está de olho em 2026, podemos dizer que o cenário ainda é incerto, mas janeiro de 2025 indica que esse jogo já está no segundo tempo.
[1] Já comentamos alguns aspectos do pleito aqui: https://fundacaopodemos.org.br/blog/que-recado-saiu-das-urnas/