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A Resenha: Munique – No limite da guerra

A Resenha: Munique – No limite da guerra

Munique – No limite da guerra (2021), do jovem diretor alemão Christian Schwochow, é mais um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, que enfatiza o quanto a complexidade dos acontecimentos faz esse período da história ser uma fonte infindável de análises e reflexões. A Segunda Guerra Mundial moldou o mundo que conhecemos hoje em diversos aspectos. Não é estranho que ela seja tão prolífica em possibilidades narrativas.

Nesse sentido, Christian Schwochow, já acostumado a temas políticos em sua breve, mas promissora carreira, resolveu abordar o prelúdio da guerra; isto é, o polêmico Acordo de Munique (1938), negociado entre Hitler e Neville Chamberlain, firmado entre Reino Unido, França, Itália e Alemanha, que entregou os Sudetos da Tchecoslováquia em troca da promessa de que os alemães não mais reivindicariam qualquer território europeu.

Schwochow explora a atmosfera tensa da iminência da guerra por meio dos personagens fictícios que protagonizam a trama, os jovens Hugh Legat (George MacKay) e Paul von Hartmann (Janis Niewöhner), dois amigos da Universidade de Oxford, um britânico e o outro alemão, que se encontram em lados opostos, mas que percebem a gravidade do que está prestes a acontecer. Aliás, vale dizer que a atuação de ambos é excelente. George MacKay já havia atuado de maneira impressionante em 1917, voltando agora, num papel diverso, porém com semelhanças. No longa “1917” ele percorre uma odisseia de horror entre as trincheiras da Primeira Guerra Mundial para entregar uma mensagem aos seus superiores sobre uma emboscada que os alemães estavam preparando, já em “Munique – no limite da guerra”, ele precisa entregar para o primeiro-ministro, Neville Chamberlain, um documento secreto, obtido por seu amigo e diplomata do Reich, Paul, junto à inteligência nazista, que alerta sobre as reais intenções de Hitler na Europa em relação ao chamado espaço vital (Lebensraum) do povo alemão. A Alemanha era um colosso populacional na Europa e, dentre outros fatores, buscava a revanche por conta dos territórios perdidos após o Tratado de Versalhes de 1919.

Assim, a trama gira em torno da dupla de espiões, Hugh Legat, secretário do primeiro-ministro inglês e Paul Hartmann, diplomata do Reich, que, ao perceberem o abismo no qual a Europa estava prestes a mergulhar, tentam avisar Neville Chamberlain para que não faça qualquer acordo com Hitler. Vale mencionar que o longa também conta com a ótima Sandra Hüller (Zona de Interesse e Anatomia de uma Queda), que interpreta Helen Winter, par romântico de Paul.

Aliás, aqui temos um dos elementos mais interessantes do filme: a reflexão sobre a própria utilidade da ação dos jovens espiões. Apesar de ter entrado para história como um acordo vergonhoso, o que aconteceu em Munique pode não ter sido realmente o fruto da ingenuidade e senilidade de um político no estertor de sua carreira. Winston Churchill acusou Neville Chamberlain de ter envergonhado toda a Inglaterra com um acordo pífio, que não foi capaz de evitar a guerra. Em célebre frase, Churchill afirmou: entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra. A política do apaziguamento, como ficaram conhecidos os movimentos de Neville no pré-guerra, entrou para a história como uma humilhação que Hitler impôs ao primeiro-ministro britânico. Todavia, é isso que o filme coloca à prova para a reflexão do público, principalmente a partir da atuação dos jovens. Os diálogos que envolvem Chamberlain, Legat e Paul são primorosos e, de certo modo, revitalizam o primeiro-ministro britânico como alguém que não estava sendo ingênuo de maneira alguma, mas que sabia da impossibilidade de evitar algo que aconteceria de qualquer maneira. Aliás, muitos historiadores são defensores da concepção de que os movimentos de Chamberlain foram fundamentais para que o Reino Unido tivesse mais tempo para se preparar militarmente para a guerra, ao passo que, precificava a honra internacional de Hitler ao fazê-lo firmar um acordo que sabia que não respeitaria. Ou seja, uma forma de Chamberlain mostrar ao mundo o criminoso que Hitler realmente era.

Neville Chamberlain é interpretado pelo consagrado ator Jeremy Irons, que dispensa qualquer apresentação. Hitler, por sua vez, é representado por Ulrich Matthes, veterano ator alemão, que curiosamente já havia interpretado um nazista de alto escalão. Ulrich deu vida a uma das figuras mais assustadoras do Terceiro Reich, o antissemita fervoroso e ministro do Povo e da Propaganda Joseph Goebbels no impressionante A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004).

O Acordo de Munique continua despertando dúvidas e interpretações. Teria sido mesmo um ato vergonhoso de um primeiro-ministro já incapaz de compreender o jogo político que estava diante de si ou um ato representativo daquilo que era possível de ser feito para proteger a Europa e o próprio Reino Unido da tragédia que viria? Cabe ao público refletir, mas talvez também pensar num paralelo preocupante aos dias atuais. Um acordo de paz entre Putin e Zelensky cessaria os anseios expansionistas da Rússia na Europa?

Munique – no limite da guerra é o típico filme que nos traz elementos oportunos do passado para podermos interpretar o presente e talvez acendermos algum tipo de farol para o futuro.

 

Observação: Esse conteúdo não representa, necessariamente, a opinião da Fundação Podemos.

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