Fundação Juntos Podemos

O que é o voto preferencial?​

Pouca gente sabe, mas existe uma maneira mais fácil de nos afastarmos dessa polarização que tanto tem prejudicado o nosso país.

O Voto preferencial é um sistema de votação que permite com que o eleitor indique uma ordem de preferência, que vai do seu candidato favorito, passando pela segunda opção, terceira, até a última, que é aquele que ele mais rejeita.

Ainda não entendeu como isso pode beneficiar o Brasil? Então vem a gente que nós vamos te mostrar…

Como funciona o voto preferencial?

Vamos supor que existam três candidatos na disputa: O José, a Maria e o Carlos. O eleitor poderá então elencar esses candidatos em sua ordem de preferência. Suponhamos que ele prefira o José, ache a Maria aceitável e não queira que o Carlos vença de jeito nenhum.

Assim, o voto desse eleitor ficaria da seguinte maneira:

  1. José
  2. Maria
  3. Carlos
 

Assim como o modelo atual, ganha aquele que tiver a maioria absoluta dos votos (50% +1). Assim, se o José estiver assinalado como primeira opção em, por exemplo, 55% dos votos, ele estará eleito, assim como já ocorre em nosso primeiro turno.  

Agora imagine que o primeiro colocado tenha sido Carlos, com 40%, e o menos votado tenha sido José com 25%. Nesse caso, José é eliminado da disputa e faz-se uma nova contagem de modo que os votos para o candidato José não sejam “jogados fora”. Nessa nova contagem os votos do candidato eliminado (José) são recontados e distribuídos de acordo com a opção de escolha dos eleitores de José. Podendo ser contabilizados para Carlos ou Maria

É feita uma nova contagem. Agora, se os votos que vão para Maria totalizarem mais de 50%+1, ela estará eleita. Caso isso não aconteça, repete-se o processo até que alguém consiga maioria absoluta.

Ficou um pouco confuso para entender? Então assista ao vídeo que preparamos especialmente para tratar sobre esse tema:

Quais países já utilizam o sistema de voto preferencial?

Este modelo eleitoral já é utilizado em algumas democracias ocidentais: na Austrália, na Nova Zelândia, em Malta, na Irlanda do Norte, na Escócia e na Irlanda, o voto alternativo é utilizado nas eleições nacionais; no Reino Unido e no Canadá, este sistema é utilizado nas primárias dos partidos.

Nos Estados Unidos, o uso do voto preferencial é crescente e usado para diferentes tipos de eleições: primárias presidenciais, eleição para Câmara Municipal, em todo o território estadual etc.

Austrália
O sistema de voto preferencial é utilizado em toda Austrália, utilizando modificações de acordo com a localidade. O sistema é utilizado tanto nas eleições majoritárias quanto proporcionais. Diferentes modelos são utilizados no país, podendo ser o completo (Assembleia Legislativa de Vitoria); o opcional (Nova Gales do Sul e Queensland); ou o parcial (Conselho Legislativo da Tasmânia). No modelo completo, o eleitor deve mostrar suas preferências em relação a todos os candidatos listados na cédula. Já no opcional, o eleitor pode indicar quantas opções quiser, desde que indique pelo menos 1. Já no parcial, o eleitor deve indicar sua preferência em um número mínimo de candidatos, conforme disposto na cédula. Assim como outros países, a Austrália usa o sistema de cédulas físicas para as eleições. Além disso, o sistema é utilizado para votações em casas legislativas e no parlamento.
Nova Zelândia
O sistema de voto preferencial é utilizado na Nova Zelândia para as eleições locais. Nesse sentido, para a autoridade local, é utilizado o sistema de voto da maioria uninominal ou o voto único transferível. Para o Conselho Distrital da Saúde é utilizado apenas o VUT. Os votos do VUT são contados utilizando um sistema de software desenvolvido para esse propósito. É importante lembrar que a Nova Zelândia, de acordo com o instituto IDEA, utiliza um sistema eleitoral eletrônico, muito similar com o brasileiro. Da mesma maneira que na Escócia, o eleitor pode ranquear quantos candidatos quiser, não precisando exaurir a lista.
Malta
Malta é um país que utiliza o Voto Único Transferível para a eleição do Primeiro-Ministro, Conselhos Locais e para seus seis representantes no Parlamento Europeu. O Voto Único Transferível é definido quando se utiliza o voto preferencial para uma eleição de representação proporcional. É um dos poucos países que elegem as legislaturas nacionais desta maneira. A tendência em Malta, com o VUT, é de bipartidarismo. Isto é, os eleitores focam sempre nos dois principais partidos (Nacionalista e Trabalhista). Em Malta, não há muitas especificidades no sistema de votação adotado, apenas que o eleitor pode ranquear quantos candidatos quiser (1, 2, 3, 4, 5 etc.).
Irlanda do Norte
O Voto Único Transferível, utilizado na votação de representação proporcional através do sistema de voto alternativo, é usado na Irlanda do Norte para as eleições da Assembleia Nacional e do Conselho Local. A eleição é realizada em cédulas físicas, ou seja, em papel (“ballot”). Da mesma maneira que na Escócia, o eleitor pode ranquear quantos candidatos quiser, não precisando exaurir a lista. Como a eleição é proporcional, mais de um candidato é declarado vencedor da eleição. Caso um candidato exceda a quantidade de votos necessários para conseguir uma cadeira, todos os eleitores que colocaram este candidato como preferência terão considerados os votos de sua segunda preferência.
Irlanda
A Irlanda é uma democracia parlamentar e utiliza o Voto Único Transferível ou o Voto Preferencial em diferentes tipos de eleições. As eleições são realizadas em cédulas físicas, ou seja, em papel (“ballot”). Eleições gerais: Utiliza o método de Voto Único Transferível, que é a utilização do Voto Preferencial em eleições proporcionais. Eleição Presidencial: Utiliza o método de Voto Preferencial para a eleição presidencial. Nesta situação, o eleitor ranqueia seus candidatos por ordem de preferência (1º, 2º, 3º, 4º etc.). Conselhos Locais: Utiliza o método de Voto Único Transferível, que é a utilização do Voto Preferencial em eleições proporcionais. Casa Alta: Nas eleições do Seanad (Casa Alta da Irlanda) a votação é relativamente diferente. 11 membros são indicados pelo Chefe de Governo, os restantes 49 membros são eleitos nas eleições do Seanad. Ainda, seis são eleitos pelo sistema de Voto Único Transferível, que é a utilização do Voto Preferencial em eleições proporcionais, em círculos universitários: três para a Universidade Nacional (por graduados) e três para a Universidade de Dublin (por graduados e acadêmicos do Trinity College Dublin). Os restantes 43 são eleitos por um eleitorado de políticos em exercício. Caso o candidato preferido seja eleito com maior número de votos do que o necessário, contabiliza-se a segunda opção do eleitor. Eleições Europeias: Utiliza o método de Voto Único Transferível, que é a utilização do Voto Preferencial em eleições proporcionais.
ESCÓCIA
A Escócia possui diferentes eleições, que ocorrem de diferentes maneiras. Os escoceses votam para o Parlamento do Reino Unido, para o Parlamento Escocês e para o Conselho Local. Desde 2007 os conselheiros locais são eleitos com o sistema de voto preferencial. O sistema é de representação proporcional e, a cada eleição, mais de um conselheiro é eleito para o mandato. A eleição é realizada em cédulas físicas, ou seja, em papel (“ballot”). Dessa maneira, cada eleitor ranqueia seus votos, colocando seu candidato preferido em primeiro lugar. É uma característica da eleição escocesa possibilitar que o eleitor ranqueie quantos candidatos quiser. Há duas situações importantes a se ressaltar no modelo escocês acerca de preferências posteriores. No primeiro caso, o voto poderá ser “transferido”, com valor total, para sua segunda, terceira, quarta etc. preferência, caso seu primeiro candidato seja eliminado da contagem por ter o menor número de votos. Na segunda situação, caso o candidato preferido seja eleito com maior número de votos do que o necessário, contabiliza-se a segunda opção do eleitor. Entretanto, é considerado apenas o valor parcial do voto. Chamamos este modelo de voto de Voto Único Transferível. Isto é, é uma votação de representação proporcional que utiliza o voto preferencial para as eleições. VUT = RP + VP
Nova York

Nova York utilizou o voto preferencial pela primeira vez em junho de 2021, em todo o território municipal, para as primárias para a prefeitura da cidade.

A cédula, em modelo de papel, dispõe de até cinco escolhas a serem ranqueadas pelo eleitor. Isso significa que o eleitor, no dia da eleição, pode ranquear até cinco candidatos de sua escolha, de forma que um eleitor faça apenas uma escolha ou ranqueie dois, três, quatro ou cinco.

O vencedor é aquele que conseguir a maioria absoluta dos votos (50% + 1). De acordo com a organização “Fair Vote”, essa eleição em Nova York foi especial, no sentindo em que houve uma diversidade de candidatos eleitos. Nesse sentido, aumentou-se a representação feminina e de pessoas negras.

A campanha sofreu variações importantes, em que houve a formação de diferentes coalizões, indicando comprometimento com pautas mais moderadas e candidatos conseguiram “furar a bolha”, isto é, alcançar um eleitorado que, nas eleições anteriores, não tinham alcançado.
Canadá

No Canadá, o maior exemplo do uso do voto preferencial são as eleições para a escolha do líder do partido Conservador. Na cédula, são dispostos os nomes de todos os candidatos que estão concorrendo à liderança e o eleitor – membro do partido – deve elencá-los.

O partido utiliza um sistema de distritos parecido com o utilizado na eleição nacional do país. Nesse sentido, são divididos pontos para cada um dos 338 distritos eleitorais. Anterior a 2022, eram distribuídos 100 pontos para cada distritos. Mas, desde o ano passado, os pontos são distribuídos na mesma proporção de votantes ou 100 pontos, o que for menor.

Anterior a essa mudança, havia grandes distorções no modelo canadense, em que Quebec tinha 4,4% dos votos, mas 23% dos pontos. Já Alberta tinha quase um quarto dos votos (22,6%), mas apenas 10% dos votos. Nesse sentido, a distribuição de pontos se tornou proporcional ao número de votos.



Vantagem do voto preferencial

O voto alternativo traz algumas vantagens para o processo eleitoral. Algumas delas envolvem custo. Como se elimina o segundo turno, realizando a contagem de votos de uma só vez, há uma diminuição no custo logístico – transporte de urnas, convocação de mesários, organização das escolas para votação etc.

Além disso, tem uma diminuição do custo orçamentário para as eleições, uma vez que haverá apenas um turno, não há distribuição de verba de segundo turno para os candidatos.

Como terceira vantagem, temos que a campanha eleitoral pode ser mais longa, promovendo um maior debate de ideias e propostas dos candidatos. Isso se relaciona a um processo eleitoral mais civilizado, pois, conforme estudos, neste modelo de votação, candidatos perdem menos tempo se atacando e mais tempo promovendo discussões sobre as propostas, inclusive indicando aos seus eleitores que o coloque na segunda opção de votos.

O voto preferencial também possibilita que todos os cidadãos sejam ouvidos, e que as preferências sejam claras para a escolha do mandatário. O resultado privilegiaria, na maioria dos casos, então, candidatos mais moderados, acabando com a danosa polarização política brasileira.

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Reduz os custos financeiros e logísticos da eleição.

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Elimina a tendência ao “voto útil” em candidatos ruins.

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Aumenta as chances de vitória de outros candidatos .

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Evita a eleição de algum candidato com alto índice de rejeição.

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Reduz a polarização e incentiva um melhor debate.

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Possibilita que todos os cidadãos sejam ouvidos.

Bora acabar com essa polarização?

Preencha o formulário abaixo e junte-se a Fundação Podemos  nessa luta contra a polarização entre direita e esquerda que só prejudica o nosso país!

Quer se aprofundar mais nesse assunto?

Aqui está uma bibliografia básica para quem quer entender mais sobre esse assunto:

A polarização brasileira se tornou, nos anos recentes, extremamente danosa para a vida política e para a nossa democracia. Extremos se atacam e resultam em brigas, inclusive no âmbito familiar. Familiares e amigos que cortaram relações e não se falam mais por razões políticas se tornou o nosso “novo normal”.

Na vida política, o extremismo vem sangrando a nossa democracia e os fundamentos que regem a nossa República. De um lado, o atentado à democracia é feito de forma explícita, alavancando movimentos populares e atentando os três poderes. Para controlar, medidas extremas também são tomadas pelo outro lado, promovendo uma verdadeira caça às bruxas.

Nas eleições presidenciais, vimos que muitos brasileiros não queriam nem um dos dois que foram para o segundo turno: na primeira volta, 30,76% do eleitorado apto não votou em nenhum dos candidatos que foram ao segundo turno. Vimos debates extremamente indigestos que se pautavam no ataque de um lado ao outro, enquanto propostas não eram colocadas à mesa. Isso causava, inclusive, desconforto nos apresentadores e mediadores do debate. Até mesmo no set de gravação brigas e agressões ocorreram entre partidários de um e outro. Essa violência não é saudável para democracia.

 

Mas podemos resolver este problema? Como?

Uma das maneiras ressaltadas por especialistas, e já aplicada em outros países, é o voto preferencial. Esse modelo de votação permite que todos os candidatos tenham real chance de concorrer. Além disso, permite que o eleitor realmente exerça o seu poder de escolha e preferências.

No voto preferencial, o eleitor faz uma lista de escolhas colocando a sua preferência em primeiro lugar. Vejamos um exemplo para escolha do diretor de uma escola, com três candidatos: Maria, João e Edna, com um total de 100 eleitores (maioria = 51 votos).

Cada eleitor fará sua escolha de acordo com a sua preferência, indo daquele que é a sua primeira opção para o cargo, até a sua opção menos favorita. Assim como o modelo atual, ganha aquele que tiver 50% dos votos mais um como primeira opção. Abaixo, está o resultado da eleição aglutinando a preferência dos eleitores:

 

PRIMEIRO CENÁRIO

Número de Cédulas

1ª opção

2ª opção

3ª opção

Ganhador

 

42

Edna

Maria

João

Edna

 

39

Maria

Edna

João

Maria

 

10

João

Maria

Edna

João

9

Edna

João

Maria

Edna

 

 

CONTAGEM DE VOTOS 1ª OPÇÃO

 

Edna

Maria

João

Total de Votos

51

39

10

Nesse caso, Edna está eleita para o cargo.

 

E se nenhum candidato atingir a maioria dos votos?

O sistema de voto preferencial permite que façamos uma nova contagem de votos, sem realizar uma nova eleição. Caso nenhum candidato tenha conquistado a maioria dos votos, o candidato colocado em último lugar é desclassificado da corrida eleitoral. Aqueles que votaram no último candidato ainda terão sua voz ouvida: será considerada a sua segunda opção.

Abaixo, temos um segundo cenário, em que nenhum candidato atingiu a maioria na primeira rodada de contagem de votos. Maria ficou em primeiro lugar, mas só atingiu 45 votos; Edna ficou em segundo lugar, com 30 votos; e João ficou em último com 3 votos.

 

SEGUNDO CENÁRIO

Número de Cédula

1ª opção

2ª opção

3ª opção

35

Maria

Edna

João

30

Edna

João

Maria

22

João

Edna

Maria

10

Maria

João

Edna

3

João

Maria

Edna

 

Nesse caso, João está eliminado da eleição. No entanto, os votos dos eleitores de João não são “jogados fora” (ou eliminados). Passa-se a considerar na contagem a segunda opção/preferência desses eleitores. Nesse segundo cenário, 22 pessoas que escolheram João em primeiro lugar, colocaram Edna em segundo. Os votos da segunda opção vão para Edna, que ganha a eleição, pois ela atingiu ultrapassou a maioria, totalizando 52 votos (1ª rodada + 2ª rodada [30+22]). Nesse exemplo, Maria só teria três votos em que foi classificada como segunda opção dos eleitores do João. Assim, terminaria a corrida com 48 votos, abaixo da maioria.  

O processo de eliminação e contagem da segunda opção dos eleitores do candidato eliminado é realizado até que um candidato atinja a maioria dos votos.